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A democracia reclama um jornalismo vigoroso e independente. A agenda pública é determinada pela imprensa tradicional. Não há um único assunto relevante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo de qualidade. Alguns formadores de opinião utilizam as redes sociais para reverberar, multiplicar e cumprem, assim, relevante papel mobilizador. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de conteúdo independentes. Sem elas a democracia não funciona. Por isso são tão fustigadas pelos que costuram projetos autoritários de poder. A sociedade em geral e a chamada elite empresarial, a exemplo da fina e responsável percepção que tiveram homens como Olavo Setúbal, Antônio Ermírio de Moraes, José Mindlin, entre outros, precisa acordar para a importância dos diários. Vivemos um momento duríssimo. Mas sairemos do túnel sombrio da corrupção e do autoritarismo graças à firmeza e ao espírito público dos nossos jornais. Sem eles, não duvido, teríamos desembocado no colapso institucional que algemou a Venezuela.

Sem jornais a democracia não funciona. O jornalismo não é antinada. É um espaço de contraponto

O mensalão, que Lula pateticamente insistiu em dizer que não existiu, explodiu no novo e gigantesco assalto planejado pela máfia que tomou conta do País: o petrolão. Alguém imagina que o saldo extraordinário da Operação Lava Jato teria sido possível sem uma imprensa independente? Os envolvidos no maior escândalo de corrupção da nossa história, podem fazer cínicas declarações de inocência, desmentidas por um conjunto sólido de provas. Podem até mesmo manifestar desprezo pelas instituições da República. Basta pensar na oportuna divulgação dos grampos que captaram conversas telefônicas de Lula durante 27 dias. Os diálogos mostraram exatamente o que o chefão do PT, a presidente Dilma e seus interlocutores pensam das instituições e do cenário politico brasileiro. O que se ouve nas conversas de Lula mostra a recorrente intenção de cometer ilegalidades e de usar o Estado em seu proveito e proteção. Os brasileiros puderam constatar, de maneira indesmentível, que com essa gente não há conversa republicana.

Sem jornais a democracia não funciona. O jornalismo não é antinada. Mas também não é neutro. É um espaço de contraponto. Seu compromisso não está vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é, ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana, respeito às minorias, promoção da livre-iniciativa, abertura ao contraditório. O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.

As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização do cidadão. Suscitam debates, geram polêmicas (algumas com forte radicalização) e exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade, algo que está na essência dos bons jornais.

Navega-se freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Fica-se refém da superficialidade e do vazio. Perde-se contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será?

Não creio, sinceramente. Penso que existe uma crescente demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Os jornais sérios fazem algo em que se pode confiar. Crescer no mundo digital significa apenas contar com novas ferramentas para fazer exatamente o mesmo. A experiência diária do jornalismo não muda, é essencialmente única. Dela depende, e muito, o futuro da democracia.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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