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Há muito tempo já sabemos que o Brasil não é um país pobre, mas sim um país com muito pobres, fato que torna claro um de nossos mais importantes e históricos problemas: somos um país profundamente desigual. Ilhas de bem-estar convivem lado a lado com bolsões de pobreza e subdesenvolvimento. Regiões altamente desenvolvidas e densamente interligadas à economia mundial e seus avanços "convivem" com regiões arcaicas, desconectadas da dinâmica internacional.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), originalmente criado por Mahbub ul Haq com colaboração do economista indiano Amartya Sen, é um dos mais importantes indicadores do processo de desenvolvimento de uma região, isso porque, além de computar o PIB per capita, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Fornece, portanto, uma visão mais ampla, no sentido de não limitar seu escopo à dimensão exclusivamente econômica do desenvolvimento.

Os dados disponíveis do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicam que o Paraná ocupa a sexta posição no ranking nacional dos estados. O que pode parecer uma situação confortável, no entanto, encobre um histórico e grave problema: a elevada heterogeneidade existente no processo de desenvolvimento entre os municípios/regiões do Paraná. Um dado importante e esclarecedor da realidade paranaense é que aproximadamente um terço dos municípios do estado tem IDH municipal inferior à média nacional. Alguns municípios paranaenses, tais como Reserva, Mato Rico, Doutor Ulysses e Ortigueira, encontram-se entre os mais baixos índices de desenvolvimento humano do país. Uma comparação interessante, até mesmo pela proximidade geográfica, pode ser feita com o estado de Santa Catarina. A maior homogeneidade do desenvolvimento humano catarinense contrasta com as profundas diferenças que caracterizam o estado do Paraná.

A análise deste processo de crescimento com concentração do desenvolvimento é uma tarefa que está muito além dos objetivos deste artigo. Certamente contribuíram neste sentido, a histórica concentração fundiária, necessária para o desenvolvimento da atividade agroexportadora, assim como o processo de concentração de atividades industriais e de serviços associado ao desenvolvimento industrial recente, especialmente do complexo automotivo nos anos 90. Não menos importante na configuração deste quadro foi a crise do Estado brasileiro, particularmente a partir dos anos 80, que praticamente aniquilou qualquer possibilidade de avanço nas áreas de educação e saúde durante mais de uma década, cenário que somente mais recentemente vem sendo alterado.

Levar o desenvolvimento econômico e social aos municípios/regiões mais pobres do estado é uma tarefa central de qualquer agenda de desenvolvimento paranaense. Ao menos um elemento desta agenda pode ser sugerido: a solução não será encontrada através do funcionamento exclusivo das forças de mercado. O objetivo último da atividade capitalista é obtenção de lucro. Regiões incapazes de propiciar a adequada geração de lucro da perspectiva capitalista simplesmente permanecerão à margem do funcionamento do sistema.

Cabe ao estado, em parceria com o setor privado, propiciar as condições para a ruptura do subdesenvolvimento de diversos municípios e regiões do Paraná. É evidente que essa participação do estado não deve simplesmente repetir o padrão de intervenção estatal das décadas precedentes. O fundamental é colocar na agenda política do Paraná este problema. O estado, através de seu conjunto de políticas públicas e de seus instrumentos de intervenção, deve induzir e coordenar os projetos de investimentos. Assim, além dos avanços nas políticas públicas educacionais e de saúde, também caberá ao estado, em parceria com o setor privado, estimular o desenvolvimento de atividades produtivas que propiciem a geração de emprego e renda em regiões que atualmente se constituem em verdadeiros "vazios" econômicos e de desenvolvimento humano.

Marcelo Curado, doutor em Economia, é vice-diretor do Setor de Ciências Sociais Aplicadas da UFPR

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