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A menos de 15 dias das eleições de 1.º de outubro, as pesquisas e as análises apontam para um grande desencanto da política por parte dos eleitores, principalmente os de maior escolaridade, com maior nível de informação.

A situação é tão preocupante que a Justiça Eleitoral está com uma intensa campanha na mídia para convencer o eleitor a votar. Uma campanha objetivando diminuir as abstenções, votos nulos e brancos.

Vários comentaristas políticos e intelectuais têm manifestado preocupação com o futuro da democracia em nosso país diante desse desencanto com a política. A situação é muito mais grave do que o ocorrido nas eleições presidenciais de 2002. Naquelas eleições ainda havia uma disputa acirrada entre o PT e o PSDB. Sendo que o PSDB representava o desmonte do Estado, a corrupção com a compra de votos no Congresso Nacional, levando o presidente FHC a ter que afastar o secretário da Presidência, Eduardo Jorge, denunciado como envolvido naqueles episódios de corrupção. O PT representava a ética na política, o paladino da moralidade que, no governo, acabaria com a corrupção instalada nos altos escalões da República.

Lula foi eleito com mais de 50 milhões de votos, de eleitores que confiaram na trajetória do PT, que confiavam num governo que faria grandes transformações sociais, acabaria com a sangria de recursos públicos para pagar os juros da dívida interna e externa e usaria esses recursos para investimentos públicos em infra-estrutura, que geraria milhares de empregos e assim diminuiria a exclusão social. A história se repetiu de forma trágica. O governo Lula cometeu as mesmas práticas do governo FHC: comprou votos no Congresso Nacional para aprovar reformas como a da previdência, que prejudicou milhares de trabalhadores que votaram nele; desviou recursos públicos através das emendas de parlamentares para a compra de ambulâncias superfaturadas. O que representa uma afronta aos eleitores que votaram nesses parlamentares com a ilusão que eles iriam representar os interesses do povo no Congresso Nacional. Na verdade, as eleições para o executivo e o legislativo em 2002, e em eleições anteriores também, representaram a manutenção de uma grande fraude eleitoral, já que a maioria dos eleitos, que deveriam representar os interesses dos eleitores, passou a defender seus próprios interesses. Isso é roubo. E, agora, faltando menos de 15 dias para as eleições, o presidente Lula em entrevista afirma que o sistema político brasileiro está podre. Dando assim um atestado de que a política está podre. Se o mandatário máximo da Nação faz essa grave afirmação, como querer convencer o eleitor que ele tem que votar num sistema podre? O presidente vai além ao afirmar que, reeleito, vai fazer uma reforma para acabar com essa podridão na política. A pergunta que o eleitor faz é a seguinte: por que ele não fez nesses quatro anos a prometida reforma política? Não fez porque preferiu conciliar com os corruptos ao permitir a continuidade da maior fonte de corrupção que são as emendas de parlamentares ao orçamento da União, como moeda de troca para a maioria dos parlamentares votar sempre com o governo. O mais grave é que essas negociações, em torno das emendas de parlamentares em troca de votos, aconteceram dentro do Palácio do Planalto, envolvendo vários ministros, que tiveram que deixar seus cargos diante do desgaste do governo. A podridão aumenta quando os parlamentares federais, ao votarem os processos de cassação por corrupção, absolvem seus pares. Como confiar num Congresso Nacional que premia com a absolvição os corruptos e a corrupção nos processos instaurados pela Comissão de Ética da Câmara Federal?

Os principais culpados pela podridão na política são os governantes, que estimulam essa prática de emendas aos orçamentos em todos os níveis e que servem para a compra de votos dos parlamentares. Estimulam a corrupção com a negociação de cargos nos executivos, nada fazem para impedir a existência do caixa 2, para continuar sendo reeleitos indefinidamente e se enriquecendo às custas de recursos públicos. Assim, destroem a grandeza da política e da democracia que nasceram na Antiguidade com o objetivo de administrar com justiça a polis, cuidar do bem comum e dos interesses da comunidade. Para comprovar o enriquecimento da maioria dos políticos de carreira, basta acompanhar a declaração de renda dos que exercem mandatos, principalmente os que já estão há muitos anos na política, e verificar como seu patrimônio pessoal e familiar cresceu.

Não dá para condenar os eleitores por esse desencanto. Na verdade, eles estão denunciando que a política está deixando de ser uma solução para os grandes problemas da coletividade e está se tornando um espaço para os negócios privados. Diante dessa constatação, milhares de eleitores estão dizendo que continuar votando para que os eleitos não os representem não tem sentido algum.

Lafaiete Neves é doutor em Economia pela UFPR, professor aposentado da UFPR e professor dos cursos de Economia e Serviço Social da PUCPR.

E-mail: l.lafa@terra.com.br

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