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 | Albari Rosa/Gazeta do Povo
| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O país vive uma das piores crises políticas da sua recente democracia. O fato é que há uma parte da sociedade em mobilização contra os desmandos da classe política, com destaque para o ano de 2013. Todavia, a grande maioria dos brasileiros está apática em relação às ações dos políticos no Congresso Nacional. Essa apatia tem uma relação direta e exclusiva com a nossa origem católica. Vou refletir sobre essa percepção cultural do cristão: muitos vivem afirmando nas redes sociais ou no dia a dia que tudo é feito por intermédio de Deus; ou, se Ele quiser, as mudanças ocorrerão, caso contrário assim será. Como se a entidade divina ficasse manipulando todas as ações dos indivíduos.

Enquanto esperamos uma salvação divina, a classe política em Brasília transforma o país no inferno

As citações a Deus crescem, naturalmente, após um acidente ou quando se consegue algum bem material. Vi um adesivo em um carro dizendo “Foi Deus que me deu”. Achei graça, porque Deus, para quem nEle acredita, não daria um bem material, por mais prosaico que seja. Deus é a expressão do amor puro, e isso não se coaduna com prazeres simples. Aliás, em um texto sagrado, o representante do divino repartiu o pão, ou seja, ensinou a solidariedade e não o individualismo ou o enriquecimento material, algo criado e incentivado na teologia dos calvinistas do século 16.

Pensando na perspectiva do coletivo, esse hábito dos habitantes dos trópicos de ter Deus como um amuleto mágico para resolver todos os problemas, inclusive os da seara política, acaba retardando uma ação política, porque a sociedade entra em um estado messiânico (exemplo de Canudos e do Contestado), isto é, a espera de um salvador da pátria ou uma solução divina. Como já afirmei, Deus não atua entre nós; há o livre arbítrio e o que é de César tem de ser resolvido no mundo de César, como foi dito por Ele. Enquanto esperamos uma salvação divina, indo para uma igreja, por exemplo, a classe política em Brasília transforma o país no inferno. A sociedade brasileira não precisa dEle; aqui já era para ser um paraíso. Precisamos, na verdade, é de um psicanalista, em especial adepto dos métodos de Melanie Klein. Como disse Sêneca, “a religião é vista pelas pessoas comuns como verdadeira; pelos inteligentes, como falsa; e pelos governantes, como útil”.

Israel Gonçalves é cientista político.
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