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Realização não é para todos. Exige esforço e talentos bem cultivados. Requer um raro senso de excelência. Pais sem percepção própria de realização transmitem aos filhos confusão desses elementos com capacidade de enriquecer. Mas não há realização em ser rico.

Nosso cérebro tem fome de vencer desafios físicos e intelectuais. O que nos impulsiona é a dificuldade e a sensação gostosa de dominá-la. Lembra do medo de não ser capaz, do esforço e do prazer de finalmente conseguir? Aquilo é sucesso.

A vida é uma sequência de desafios complexos. Realização é o acúmulo de sucessos nos principais desafios da jornada. Saber lidar com as frustrações dos ocasionais fracassos é em si um aprendizado para o sucesso e a realização.

Os principais desafios do adulto costumam vir da profissão. Mas o sucesso profissional é apenas uma fase da realização pessoal. Tal como em certo momento da juventude percebemos que há algo mais desafiador que os brinquedos, quando maduros queremos mais do que o dia a dia da profissão. O que no início era desafio se torna tarefa rotineira. Poucas são as atividades profissionais em que os verdadeiros desafios não vão escasseando e a rotina não tende ao tédio.

É essencial perceber o momento em que entramos "no automático" e passamos a trabalhar apenas pelo dinheiro e pelo reconhecimento. Essa é a hora de descobrir novos desafios na profissão ou encontrar outra atividade que nos desafie e motive. É comum que essa mudança resulte em menor remuneração. Muitos que têm condições de abrir mão de mais dinheiro mantêm-se na atividade antiga, sem desafios, sem motivação. Desistem de uma vida de realização. A ideia de ganhar menos dinheiro, mesmo que já tenhamos o suficiente, é pouco aceitável em nossa cultura. Por que querer acumular sempre mais?

O homem é excepcional entre os animais pela razão, mas também pela vaidade. Ter sucesso não basta. É preciso exibir o sucesso, provocar inveja. Para quem não dispõe de capacidade de julgar a excelência de uma pessoa, o dinheiro representa um sinal concreto, visível e comparável. Buscam então acima de tudo ganhar dinheiro, como um atalho para o que percebem como sucesso. A riqueza, cuja função é nos proporcionar subsistência, conforto e lazer, transformou-se em troféu. É maneira tangível, na cultura de competição superficial, de mostrar-se melhor que os outros.

Sob a perspectiva da educação, ensinar excelência não é simples. Mais fácil incutir nas crianças ambições concretas, como vencer o coleguinha e, mais adiante, ter dinheiro e tudo o que ele pode comprar. A noção de excelência é abstrata, e como tal só se transmite em longo prazo, com atitudes, exemplos e vivências que vão se incorporando nas referências subjetivas.

Aqueles que buscam a excelência não perdem jamais a gana por mais conhecimento e novos desafios. Para eles, ter mais dinheiro que os outros não é motivação, até porque não se importam com a competição e têm como referência apenas a perfeição. A sensação de sucesso dessas pessoas não se dissipa no tempo. Amanhã há outro desafio, mais esforço e novo sucesso. Esses indivíduos são realizados. Realizam-se todos os dias. Não é surpresa que, como "efeito colateral", frequentemente ganhem muito dinheiro, ainda que não o busquem como objetivo de vida. Quem valoriza acumular dinheiro por outra via que não a da motivação dos desafios pessoais, e quem, no momento em que a atividade profissional torna-se chata e repetitiva, opta pela vida de tédio com mais dinheiro, perde o senso de realização.

Nossos filhos são expostos incessantemente à noção de que o que importa é ganhar dinheiro, mais e mais. E mais que os outros. Se você não está na minoria que contra-ataca e ensina aos filhos os valores da excelência, mas, pensando bem, prefere que seu filho seja realizado a que seja rico, não desista. Sempre é tempo de influenciar seus filhos positivamente, de resgatar-lhes os valores, de ajudá-los a corrigir a rota e entrar na trajetória do sucesso subjetivo, da realização e da felicidade. Aceite essa provocação como seu próximo desafio, se esforce para vencê-lo e perceba mais uma vez aquela sensação gostosa de sucesso. Afinal, não há maior sucesso que criar filhos realizados.

Joca Levy é advogado.

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