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| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Sempre que pretendemos medir o nível de desenvolvimento de um país, observamos métricas clássicas, como índices de desigualdade social, percepção de corrupção pela população, taxas de desemprego e de crescimento econômico. Uma nação latino-americana tem experimentado melhoria em vários desses índices. O Chile detém hoje a liderança na América Latina com o melhor PIB per capita, além do IDH. A escolaridade média também está entre as mais altas do continente.

A posição de vanguarda dos chilenos é justificada por ações do governo, seja na criação de um ambiente favorável ao empreendedorismo, seja por investimentos em ciência, tecnologia e inovação. É possível, a partir daí, estabelecer um nexo de causa e efeito entre a melhora dos indicadores do país e os esforços do poder público para desburocratizar a vida de quem pretende inovar e empreender.

O Brasil pode extrair lições do Chile no estímulo ao empreendedorismo e à inovação

O Brasil pode extrair lições do vizinho sul-americano. É condição indispensável para reduzir a pobreza e a desigualdade social que o Estado, em parceria com agentes econômicos e a sociedade, seja o catalisador de um processo que privilegie o fomento à inovação e à produção de ciência, posicionando-as no mesmo patamar de importância da educação e da saúde.

Em tempos de austeridade, o papel do Estado, é bom frisar, não se resume à alocação orçamentária. Recomenda-se observar o binômio incentivo financeiro e incentivo em pessoas.

Além dos necessários recursos financeiros, é importante que se transforme a mentalidade e a cultura brasileiras de modo a assimilar os riscos inerentes à atividade empresarial para o desenvolvimento dos negócios no longo prazo e os desafios de fazer ciência propriamente dita.

Na hecatombe fiscal em que vivemos, buscar alternativas que fujam das despesas vultosas – como a de proporcionar outra visão da ciência entre jovens – permite colher frutos mais adiante. Promover, principalmente neste público, um olhar moderno, contemporâneo, que aviste também o mercado. Um saber que não é restrito aos laboratórios nem às salas de aula, mas que transita entre o que se vê nas ruas e o que se aprende nas escolas.

Leia também:Inovação sem visão sistêmica? (artigo de Marcos Pessoa, publicado em 30 de março de 2017)

Leia também:O protagonismo privado na inovação (editorial de 9 de julho de 2013)

Na comemoração de seus 50 anos, a Finep reforça o seu papel de agente transformador de uma nova visão da ciência, por meio do apoio à exposição Inovanças: Criações à Brasileira, no Rio de Janeiro, apresentando 39 inventos que aliam criatividade, conhecimento, tecnologia, ciência e, sobretudo, transformam tudo isso em benefício para a sociedade. Além de mostrar nosso potencial criativo, a exposição leva ao país e para fora dele a importância do conhecimento e da inovação como condição para o mundo do futuro.

A medida de atenção que um país empresta ao seu desenvolvimento tecnológico e à construção de um ambiente promissor para o empreendedorismo é uma importante credencial para seu posicionamento como liderança geopolítica, tão necessária quanto a missão de despertar em jovens e adolescentes o apreço pela ciência, por criações e pelo risco. São essas as condições necessárias para que o Brasil ambicione assumir posição de protagonista na América Latina e no mundo. Assim como o Chile.

Marcos Cintra, doutor em Economia pela Universidade Harvard e professor titular da FGV, é presidente da Finep.
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