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Em um mundo no qual diariamente encontramos nos jornais fatos nada edificantes, a notícia de uma beatificação pode servir para que lembremos o valor de uma vida vivida a serviço dos demais, apoiada na fé e na ajuda divina. A beatificação de dom Álvaro del Portillo, que ocorre hoje em Madri, traz-nos a ocasião de refletir sobre a presença dos santos na nossa vida. Pessoas que nos ensinaram a descobrir o sentido do cotidiano vivido diante de Deus e, por isso mesmo, reconhecendo nos demais pessoas a quem servir, respeitar e amar. Descobrimos que essas atitudes não são utópicas, mesmo em uma sociedade que cada vez mais ignora esses valores. Temos de nos convencer de que precisamos recomeçar; voltar o olhar para a alegria, a paz, a amizade, a sinceridade, a lealdade, virtudes tão presentes na vida dos santos e que fizeram o seu viver pleno de sentido e felicidade.

A vida de dom Álvaro está estreitamente ligada à de São Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei. Permaneceu sempre a seu lado até sua morte, em 26 de junho de 1975 – talvez o momento mais doloroso de sua vida, mas mesmo assim "não teve nem tempo de chorar. Naquelas circunstâncias difíceis, dedicou-se a servir, mantendo-nos a todos com uma fortaleza e uma paz extraordinárias", segundo dom Javier Echevarria, que sucedeu dom Álvaro à frente do Opus Dei. Disto fui testemunha. Multiplicou-se em detalhes para transmitir-nos paz e serenidade. Acompanhava-nos com suas orações, transmitia-nos as notícias recebidas de outros países, queria saber como estávamos, se comíamos e dormíamos adequadamente e, sobretudo, nos lembrava de que, agora que o fundador estava junto de Deus, contávamos com um intercessor que nos ajudaria a ser muito fiéis.

A fidelidade – não uma fidelidade inerte, mas cheia de iniciativa –, a partir daquele momento, passou a ser o núcleo de sua pregação. Ao longo dos 19 anos em que guiou o Opus Dei, começou as atividades apostólicas em 20 novos países. Seguiu com os trabalhos necessários para tornar realidade outro grande desejo do fundador: a solução canônica definitiva do Opus Dei. Rezou e fez rezar intensamente por esta intenção até que João Paulo II erigiu o Opus Dei em prelazia pessoal, em 1982. Foi ordenado bispo em janeiro de 1991. Não via essa nomeação como uma distinção para si, mas como um bem para toda a prelazia.

Em 1994, fez uma viagem à Terra Santa. O trabalho apostólico da Prelazia havia começado em Jerusalém, e dom Álvaro aceitou a sugestão de ir até lá para impulsioná-lo. Tinha muito desejo de visitar os lugares tão unidos a Jesus Cristo, à Virgem e a São José. Foi uma viagem breve, mas muito intensa e de muito significado. Considerou-a uma "carícia do Senhor". Logo após seu regresso a Roma, no dia 22 de março, veio a falecer devido a problemas cardíacos.

Guardo de dom Álvaro a lembrança de seu sorriso sempre acolhedor, de sua voz cálida, de sua disponibilidade para todos os que o procuravam, de sua compreensão para com nossas falhas, seguida de palavras sempre animadoras que nos moviam a recomeçar. Quantas vezes, dirigindo-se a nós, pedia: "Meus filhos, vivei com um coração cada vez maior, pensando em todos, querendo a todos, sabendo sacrificar-se por todos, e assim serviremos ao Senhor e estenderemos o reinado de Jesus Cristo por todas as partes".

Maria Lucia Rangel de Alckmin, mestre em Arquitetura e Urbanismo, é professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

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