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Após a Quaresma, avizinham-se os dias da Semana Santa. No mundo cristão é já de longa tradição o costume de ir às igrejas levando ramos. Na celebração, são abençoados e, depois, são levados. Muitos os conservam como um sinal de proteção divina.

Mas, para um cristão, qual é o sentido de toda a tradição em torno ao Domingo de Ramos? Afinal é um dos traços mais antigos e típicos do calendário litúrgico do Cristianismo. Aqui os Evangelhos se tornam a fonte mais segura. E Marcos 11, 1-10 nos oferece um conjunto suficiente de informações. Jesus chegou próximo a Jerusalém. Era o término de uma longa viagem. Ele pediu aos discípulos que lhe trouxessem um jumentinho desde o povoado próximo. E assim o fizeram. Cavalgando-o, Jesus entrou na cidade, ovacionado por muitos que estendiam seus mantos e espalhavam “ramos apanhados no campo”.

São indicações muito sóbrias. Parecem escassas e imprecisas para desencadear uma tradição tão longa e densa de sentido. Todavia, se bem interpretado no conjunto dos gestos de Jesus, também a festa dos Ramos recebe um sentido bem matizado e profundamente cristão. Tentemos observar os movimentos do Senhor, bem como os protagonistas da narrativa de Mc 11, 1-10. Então aflorarão os significados do Domingo de Ramos.

Se Jesus entra na cidade cavalgando um jumentinho, ele está a indicar como é o rei que está a chegar. É alguém que em mansidão e humildade vem para trazer a paz aos que o acolhem

Daqueles 11 versículos, em sete deles aparece o jumentinho. Parece que se trata de um verdadeiro protagonista da narrativa. E de fato é assim. Por que este destaque? O que pretende o evangelista? Naquela época o cavalo, por ser grande, forte e ágil, era considerado um animal de muitas aptidões para a guerra. Reis, generais, conquistadores e homens de poder entravam nas cidades conquistadas cavalgando animais imponentes. O povo conquistado se apresentava à porta da cidade para aclamar o novo senhor. Estendiam mantos e ramos. Era uma espécie de pax romana, ou seja, aceitavam o novo soberano ou lhes estava reservada a condenação, quase sempre à morte.

Se o cavalo era animal de guerra, o jumento era tido por animal que simbolizava a paz. Quem dele se servia era um homem de paz. Se Jesus entra na cidade cavalgando um jumentinho, ele está a indicar como é o rei que está a chegar: não é um potentado que tem exércitos; não se apresenta com a força dos poderosos; não conhece a violência; não pretende triunfos; não conhece comportamentos tirânicos. É alguém que em mansidão e humildade vem para trazer a paz aos que o acolhem.

Segundo o relato do evangelista, aclamavam Jesus no seguinte teor: “Bendito seja o Reino que vem, o Reino de nosso Pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!” Ora, no judaísmo se esperava com grande ansiedade que o Messias reconduzisse Israel aos tempos triunfais da época do rei Davi. Naquele reinado, alguns séculos antes, o povo e o reino de Israel se expandiram. A economia experimentara grandes avanços; as relações de troca se estenderam; a riqueza se multiplicara. Foram tempos memoráveis, que seriam reabilitados pelo enviado de Deus. Ele estava prestes a chegar (“Bendito seja o Reino que vem, o Reino de nosso Pai Davi!”). Por isso o aclamavam tendo em mãos os ramos.

Mas o enviado de Deus, já chegado, era humilde, despojado de potências e grandezas humanas. Por outro lado era grande a sua força. Era capaz de perdoar até quem o assassinava. Jamais se imaginou que Deus escolheria os caminhos da pequenez humana para revelar-se imensamente amoroso. Aquele “primeiro domingo de Ramos” anunciava aos cristãos de todos os tempos que não há outro caminho para encontrar o Senhor senão pela humildade e pela paz.

Dom José Antonio Peruzzo é arcebispo de Curitiba.
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