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"Aqui jaz Thomas Jefferson, autor da Declaração da Independência Americana, do Estatuto da Liberdade Religiosa da Virgínia e pai da Universidade de Virginia." Essa é a frase que o grande estadista pediu que fosse gravada em seu túmulo.

Pois é, Jefferson – que foi um dos intelectuais e políticos norte-americanos mais importantes de todos os tempos (se não o mais); que presidiu os Estados Unidos e transformou-os em uma potência continental quando comprou de Napoleão a Louisiania, que ia do Canadá ao Golfo do México; que ordenou a realização da histórica missão de desbravamento de Lewis e Clark; cuja biografia é cansativa de tão rica – escolheu entre as três coisas que considerava mais relevantes em sua existência a criação da Universidade de Virgínia.

A Universidade é a Alma Mater de uma nação e tem esse poder de gerar amores definitivos, que são indiferentes a quaisquer decepções. Seus eternos amantes parecem recitar os versos de Pablo Neruda para desculpar suas traições: "Ainda que esta seja a última dor que ela me causa… e estes sejam os últimos versos que eu lhe escrevo".

Digo isso a propósito do centenário da nossa querida Universidade Federal do Paraná, até agora comemorado com espantoso recato e modéstia. Diferentemente das mulheres centenárias, que comemoraram a data com a simplicidade elegante de dona Flora Munhoz da Rocha, as instituições que alcançam cem anos de existência deveriam ser exuberantes, mostrar-se à população, exaltar sua contribuição à construção nacional. Veja-se o caso de Harvard, bela, rica e faceira, esbanjando juventude aos seus 370 anos.

Acredito que a nossa UFPR deveria abandonar seu recato e trombetear aos quatro ventos a sua condição de Alma Mater paranaense e sua contribuição à formação das elites técnicas e políticas de nosso estado e de nosso país no passado, aproximando-se mais e mais da vida concreta da população para fazê-la relembrar continuamente sua relevância social. Às vezes lembro-me com admiração e saudade dos momentos de nossa história em que nada de importante acontecia no Paraná sem que a Universidade Federal fosse mobilizada para opinar, para encaminhar ou para ajudar a resolver.

O desembargador Ney José de Freitas, membro da Academia Paranaense de letras iniciou uma campanha para que a UFPR conceda ao compositor, maestro, arranjador, músico e instrumentista parnanguara Waltel Branco o título de Doutor Honoris Causa para homenagear sua obra. A campanha logo recebeu a adesão maciça de todos os que conhecem o trabalho de Waltel Branco, como um dos poucos verdadeiros cidadãos do mundo nascidos no Paraná: hoje com 82 anos, Waltel é admirado em muitas partes do mundo e se tornou uma unanimidade no meio musical erudito e popular.

Títulos de Doutor Honoris Causa podem ser meros gestos de cortesia diplomática destinados a ganhar simpatias junto a pessoas influentes. Ou podem ser, realmente, reconhecimentos públicos do valor e da importância social do trabalho de algumas pessoas portadoras de talentos raros. Quando a história pessoal do homenageado está enraizada em nossa mais antiga cidade, ninguém mais adequado para receber essa honoraria.

Waltel Branco mais que merece ser Doutor Honoris Causa da UFPR. Mesmo sem ter preenchido um Currículo Lattes ou escrito um daqueles artigos para uma revista científica com tantas citações que parecem mais uma transferência de ossos de uma tumba para outra, como já disse alguém.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado de Administração da PUCPR.

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