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Sem o deputado federal Max Rosenmann e o ex-senador João de Mattos Leão, recentemente falecidos, o Paraná fica um pouco menos fulgurante

O Paraná perdeu o ex-senador João de Mattos Leão e o deputado federal Max Rosenmann, duas figuras exponenciais da política paranaense, na penúltima semana do mês de outubro. O filho do Juca de Mattos Leão, ex-prefeito de Guarapuava, desde adolescente gostava de política, admirador do ideário da União Democrática Nacional (UDN). Em 1962, elegeu-se deputado estadual pelo Partido Social Democrático (PSD), reeleito em 1966 pela Arena, uma vez que o Ato Institucional nº 2, editado pela ditadura, abolira os antigos partidos.

Uma das fases mais relevantes da vida pública de João de Mattos Leão foi no exercício do cargo de secretário do Interior e Justiça do governo Paulo Pimentel, quando acumulava a presidência estadual da Arena, e por orientação deste ao lado do ex-desembargador e professor de direito constitucional da Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, José Munhoz de Mello, secretário de Segurança Pública, contribuiu para que o Paraná fosse um dos estados de arbitrariedades limitadas, permitindo-se certa liberdade aos movimentos libertários e de protesto da classe estudantil. Frise-se que Paulo Pimentel (1966 – 1970) foi o único governador que assumiu abertamente a causa do retorno à democracia.

Em 1970, João de Mattos Leão foi eleito senador juntamente com Acciolli Filho, derrotando José Richa, candidato do MDB, pela soma das duas sublegendas da Arena. Exerceu até 1978, com brilhantismo, o mandato de senador e, depois, ocupou a diretoria de Crédito Rural do Banco do Brasil, realizando profícua e operosa administração.

Em 1966, o povo me sufragou como deputado federal mais votado do MDB, e mantive estreito contato com João de Mattos Leão, secretário do Interior e Justiça, época em que colaborei na Câmara dos Deputados com as ações do governo Paulo Pimentel. Cassado em 13 de março de 1969 pelo AI-5, prossegui o relacionamento com meu amigo João de Mattos Leão, colega de cinco anos na Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, e de dois anos de Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), em Curitiba, em que éramos companheiros de barraca nas longas manobras militares.

No carnaval de 1950, João era namorado da Neusa, residente em Irati, com quem veio a casar-se para desfrutar longa e feliz vida matrimonial. Na sexta-feira, véspera de carnaval, Mattos Leão não esperou o sorteio da "escala de guarda" de 24 horas do CPOR, e viajou para Irati. Ele foi sorteado para o sábado, e eu não. Apresentei-me como voluntário e o salvei da prisão e da reprovação, pois a falta era considerada grave pelo regulamento militar.

Continuei a freqüentar a casa do Mattos Leão e, numa festa de seu aniversário, à noite, aconteceu um fato inusitado. O governador Paulo Pimentel chegou e disse-lhe que fora avisado que ele seria cassado, embora fosse presidente da Arena, no bipartidarismo imposto pelo regime, e coordenador político do governo.

O alarme era falso. Mattos Leão encontrou-se em Brasília, no dia seguinte, com o chefe da Casa Militar, general Jayme Portela, que o tranqüilizou. Tudo não passara de uma intimidação de um empresário paulista muito ligado ao ministro da Justiça Gama e Silva, que pleiteava um aval do Badep que estava para ser negado. Isso mostra a ausência de critério e os casuísmos das cassações do regime militar, que não dava direito de defesa e sequer o de saber do que era acusado. As vítimas eram surpreendidas ao ouvir seu nome na lista de cassação na Hora do Brasil. Os detalhes relato no meu livro Vivência de Fatos Históricos, 2002, Editora Paz e Terra, SP.

Max Rosenmann igualmente teve trajetória fulgurante. Cumpriu seis legislaturas consecutivas de deputado federal pelo PMDB do Paraná, sendo o mais votado do estado em dois pleitos, demonstração eloqüente do estrito cumprimento de seus compromissos de campanha.

No governo José Richa, dirigiu a Casa Civil, foi conselheiro do Badep e, em 1984 e 1985, presidiu o Instituto de Previdência do Estado (IPE), havendo-se com criatividade e dinamismo nessas importantes funções. Acompanhei de perto sua atuação no IPE, criado por lei de minha autoria aprovada exatamente como redigi, que agrupou seguro de vida, montepio dos servidores, serviço de assistência médica, empréstimo pessoal e imobiliário ao funcionalismo, e se constituiu na primeira lei sancionada pelo governador Ney Braga.

O edifício sede do IPE, construído no governo Paulo Pimentel, tem meu nome por projeto de lei do saudoso deputado Anibal Khury, sancionado pelo governador Alvaro Dias (Lei nº 8802, de 27 de junho de 1988). Agradeci pessoalmente ao Anibal e ao Alvaro, mas declinei da colocação da placa alusiva à denominação do prédio com meu nome. Como é sabido, o instituto foi extinto no governo Jaime Lerner, ocasião em que apresentava dificuldades financeiras e precário atendimento ao funcionalismo.

Perdi dois grandes amigos e o Paraná ficou desfalcado de duas personalidades que serão sempre lembradas pelos assinaláveis serviços prestados ao estado e ao Brasil.

Léo de Almeida Neves é membro da Academia Paranaense de Letras, ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil.

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