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Padre Antonio Paes Junior.
Padre Antonio Paes Junior.| Foto: Divulgação

Enquanto relembravam a paixão, morte e ressurreição de Cristo, as celebrações da Semana Santa de 2018 em uma paróquia de Cabo Frio, famoso balneário no estado do Rio de Janeiro, antecipavam outra via crucis: a de seu pároco, o padre Antonio Paes Junior, da arquidiocese de Niterói. No mesmo período, correria na Igreja Nossa Senhora da Esperança a notícia de que o padre teria se valido da proximidade com três menores, no momento da confissão, para infligir-lhes atos libidinosos, em ocasiões distintas. Piedoso, zeloso defensor da integridade da fé, amante da Tradição e da missa conhecida como “tridentina” (em latim e segundo rito anterior à missa atualmente difundida), rigoroso na pregação da doutrina e da vida autenticamente católicas, pe. Antonio contrastava com acusações daquela natureza.

Decorridos quase seis anos de humilhações, sanções canônicas, isolamento forçado, privações de todo tipo, prejuízos à saúde e uma condenação a 14 anos de prisão em primeira instância (2022), o pobre padre e sua mãe – qual Maria aos pés de seu divino Filho no Calvário, cravejada de dores –  puderam finalmente respirar aliviados no último dia 14 de novembro, quando os desembargadores da Segunda Câmara do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), por unanimidade (3x0), reconheceram a absoluta insuficiência de provas que sustentassem a primeira condenação e confirmaram aquilo de que seus numerosos fiéis e dirigidos espirituais mais honestos nunca duvidaram: padre Antonio é inocente. Para os que puderam acompanhar o caso de perto, seu vigor pastoral incomum pela salvação das almas sob seu pastoreio bateu-se contra a resistência de alguns paroquianos localmente influentes, moralmente torpes e acostumados a outra ordem de coisas, acumulando contra si insatisfações que culminaram na infame incriminação forjada para ferir-lhe a reputação e afastá-lo da paróquia. A decisão do tribunal, exemplo reconfortante de que ainda se pode esperar algo da justiça dos homens, foi acompanhada de grande comoção por todos os que rezaram pelo sacerdote e se empenharam de algum modo em sua defesa. A esperança agora é vê-lo também desenredado de seu processo canônico.

O caso do padre Antonio, entre outros, já havia sido abordado no documentário “Cancelados”, produzido em 2022 pelo Centro Dom Bosco, associação de fé e cultura do Rio de Janeiro que reúne leigos católicos para “rezar, estudar e defender a fé”. O filme encontra-se disponível como conteúdo exclusivo na plataforma digital da associação. Conforme divulgado à época de seu lançamento, a acelerada relativização das verdades de fé após o Concílio Vaticano II (1962-1965) refletiu-se na flexibilização dos costumes em geral e dos critérios vocacionais em particular, sobretudo quanto à moral sexual, facilitando a lamentável incidência de escândalos sexuais no meio clerical e o consequente desprestígio do catolicismo. Uma vez amplamente infiltrada a Santa Igreja por elementos propagadores de erros doutrinais e relaxamento moral, a sanha revolucionária passa então a perseguir e caluniar os clérigos resistentes a tais infiltrações, acusando-os injustamente das previsíveis consequências da sujeição da doutrina católica aos caprichos de um humanismo falsamente cristão, terreno, liberal, rebelde e violento – embora manso na aparência e no discurso. É o caso, por exemplo, do Cardeal Pell (falecido em janeiro deste ano), na Austrália, e de D. Taveira, arcebispo de Belém do Pará: ambos incômodos pregadores da ortodoxia, ambos perseguidos sob falsas acusações de abusos sexuais.

O reflorescimento da Tradição Católica nos dias de hoje passa inevitavelmente pela aguerrida defesa dos padres, bispos e cardeais isolados em seu amor à ortodoxia contra a injuriosa e asfixiante apostasia que os cerca. Mais do que nunca, rezemos por eles e pela conversão de seus algozes, afiançando nossa esperança na promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo de que as portas do inferno jamais prevalecerão contra Sua Igreja (Mt. XVI, 18).

Luciano C. Pires, católico, casado, pai de quatro filhos, professor e membro do Centro Dom Bosco.

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