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Ao nos depararmos com as informações sobre as vendas do comércio varejista em novembro do ano passado, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) na última quarta-feira (12/1), ficamos com a nítida impressão de que o governo brasileiro estará, na próxima semana, com uma espécie de dilema que já perpassa aos setores produtivos e a um grande número de cidadãos: tentará controlar a propalada "onda" inflacionária, usando inclusive remédios amargos, como a restrição ao crédito, ou adotará medidas mais condizentes com o perfil desenvolvimentista nacional, de que tanto precisamos, sem prejuízo às chamadas classes C, D e E, recém-emergidas ao mercado consumidor?

Na próxima semana, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que pode determinar um aumento da taxa Selic, com o pretexto do controle da inflação, que teria sido fomentada por este aumento de consumo e de preços, provavelmente sinalizará os rumos do governo Dilma. Sabe-se que um maior consumo foi estimulado ao longo dos anos, desde o Plano Real, pela recuperação do crédito, o incentivo ao crescimento do emprego e do rendimento. Controlada a inflação, a partir das intervenções na economia feitas pelo governo Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, com o prosseguimento de Lula, o cidadão passou a planejar melhor seus gastos e a consumir mais. Em novembro último, segundo o IBGE, o crescimento do comércio varejista em todo o país foi de 1,1% ante os resultados de outubro. Em relação ao mesmo mês em 2009, a evolução foi expressiva – de 9,9%, embora seja preciso considerar que naquele período ainda vivia-se os rescaldos da crise financeira internacional. Se a tendência de crescimento foi mantida em dezembro – os indicadores ainda não são conhecidos, mas tudo nos leva a acreditar nessa possibilidade –, teremos números animadores, com recorde de vendas no comércio varejista. E isso mesmo com a violência anunciada pelo governo, às vésperas do Natal, visando, de acordo com os então responsáveis pelo Banco Central, reduzir o dinheiro para empréstimos no mercado, aumentando os depósitos compulsórios, retirando R$ 61 bilhões da economia e, para variar, mais uma vez, onerando os consumidores e o empresariado. Apesar dos pesares, teremos dois dígitos no crescimento do comércio varejista em 2010.

Impingir juros altos para os consumidores e para os setores produtivos, insisto, é uma forma desastrosa não só para quem consome, mas igualmente para quem produz, aqueles que fazem a roda de a economia girar. Com essa política, o governo tenta fazer com que as pessoas consumam menos, o que ocasiona menores investimentos das empresas. Não é esse o melhor caminho. O correto é que o governo busque alternativas econômicas não inibitórias ao crescimento e que consolide a pretensão anunciada pela presidente Dilma Rousseff de solucionar o grande problema brasileiro que é o custo da máquina pública. É preciso não só sinalizar que quer reduzir os gastos oficiais, especialmente no campo político, custos que a sociedade condena, e a própria presidente da República já deu mostras de ser contrária a esse disparate. É necessário efetivamente reduzi-los. Não podemos, a cada vez que a inflação ameaça o desenvolvimento do país, simplesmente apelar para o aumento de juros, quando já temos no Brasil um dos juros reais mais elevados do planeta. É necessário ponderação e moderação em todos os níveis de atividades para que possamos crescer, responsavelmente, com sustentabilidade, investindo, na iniciativa privada e em obras públicas, mormente nas de infraestrutura, sem receios de termos que novamente conviver com a inflação.

Edson Ramon é presidente da Associação Comercial do Paraná

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