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Neste ano eleitoral, pessoas que almejam um cargo eletivo começam a articular estratégias para atingir seus objetivos: conseguir uma cadeira entre os legisladores estaduais, a Câmara Federal, o Senado e o disputado vestibular para os cargos executivos.

Em meio ao desmedido assédio da parte dos candidatos, como discernir entre ovelhas e cabritos, pastores ou interesseiros, aqueles que serão os porta-vozes do povo no ato de legislar ou de governar? Num primeiro olhar, diante das propostas de ação e ampla publicidade, os candidatos se confundem. Todos são bons e parecem merecer o voto do eleitor.

Diante das idênticas promessas dos candidatos, faz-se mister, aqui, uma distinção entre os verdadeiros e os falsos pastores no campo político. Idôneos ou não se confundem na apresentação de suas promessas. Apelo para uma metáfora para a compreensão do fato: tanto um bom quanto um mau pastor se preocupam com as ovelhas. Há, porém, uma diferença essencial. O bom pastor está atento ao bem-estar e às necessidades permanentes das ovelhas, enquanto que o outro, olha a ovelha com interesse pessoal: cuidar dela, protegê-la, alimentá-la, mas para extrair sua lã e sua carne.

Um critério para ajudar no discernimento entre um e outro candidato está na etimologia da palavra "candidato". O termo significa vestido de branco, puro, cândido. Sua origem vem da antiga Roma, onde aqueles que disputavam cargos eletivos eram obrigados a desfilar pelas ruas trajando vestes brancas, forma de demonstrar a pureza de suas vidas e de seus propósitos. Cabia aos cidadãos aceitar a apresentação ou jogar lama nos camisolões daqueles que sabiam estar enganando a multidão. Na teoria, candidato tinha que ser cândido, ainda que, na prática, muitos burlassem o princípio.

Dessa premissa derivam vários desdobramentos: a questão ética e suas implicâncias na aceitação de candidaturas e na regulamentação das propagandas eleitorais; a análise da vida passada dos candidatos; a conscientização dos eleitores diante do estereótipo de que o povo não tem memória; o fortalecimento dos comitês de ética na política; a preparação, apresentação e apoio de candidatos pelas comunidades, elevando sua auto-estima, fazendo-as crer que em seu seio existem pessoas capazes, evitando, assim, candidaturas de pára-quedistas.

Papel importante tem o cidadão em vigiar os que mantêm cargos eletivos e os que almejam disputá-los. Igual papel desempenham os magistrados em sua vigilância pelo bem do país. O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Édison Vidigal, parte dessa imagem para defender uma rígida regulamentação do direito de cada um disputar votos populares. Para ele, não basta a rejeição de registro aos candidatos com sentenças condenatórias transitadas em julgado ou com óbvia vida pregressa. Deveriam ser proibidos de candidatar-se quantos se encontrassem sob suspeição.

A Constituição exige moralidade, princípio que para o exercício de cargos públicos sobrepõe-se ao da presunção da inocência. Devem ser aplaudidos os juízes que negam registro aos carentes da candura imprescindível.

Como os políticos, as palavras se transformam no decorrer do tempo. Só que, se essas regras drásticas vierem a ser estabelecidas, haverá não apenas falta de candidatos a postos eletivos. Faltarão vereadores, prefeitos, deputados, senadores e governadores. Quem teria a coragem de transitar, vestido de branco, em meio a uma passarela repleta de líderes comunitários munidos com lama em suas mãos? Sejamos vigilantes e arautos da verdade.

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