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O Brasil pode atualmente ser comparado a um navio. Um grande navio à deriva por causa dos erros de navegação cometidos pela capitã e seus imediatos. Os passageiros pagam caro pela passagem e são pessimamente atendidos pela tripulação, que é muito maior do que deveria ser. Os ratos saíram do porão e estão passeando livremente pelo convés. As caldeiras deixaram de funcionar a pleno vapor. O pior é que a comandante e os seus imediatos não tem a menor noção, competência e senso de urgência para colocar o navio no rumo correto.

Uma verdadeira tragédia é o contínuo processo de redução da produção industrial no Brasil. O PIB industrial encolheu 8,3% em 2015. No Paraná, a retração foi de 9,6%. Até a indústria de alimentos teve um desempenho negativo de 2,3%. Embora o Brasil seja um celeiro de jovens e criativos empreendedores, falta confiança para investir num país que tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. Se somarmos todos os tributos, chegarão a mais de 100 tipos diferentes. Na Europa, o tempo gasto por uma empresa para administrar os seus impostos é de 260 horas por ano, enquanto aqui são necessárias pelo menos 2,6 mil horas, dez vezes mais!

Não podemos competir com outros países em igualdade de condições

O custo decorrente de uma legislação trabalhista totalmente ultrapassada, uma infraestrutura insuficiente para atender às necessidades da indústria e das reformas fiscal e tributária tão faladas, mas sempre adiadas, dificultam ainda mais a retomada do crescimento industrial. Pode-se acrescentar a burocracia descomunal, lenta, ineficiente e desnecessária que faz com que o custo transacional no Brasil seja altíssimo. Não há luz no fim do túnel, por enquanto.

Mesmo que o Brasil tenha trabalhadores qualificados, a afirmação de que o custo da mão de obra é um fator competitivo importante não se confirma. O custo de um empregado na indústria chega a mais de 140% do seu salário nominal. Diante disso, enquanto não reduzirmos significativamente os encargos sobre a folha de pagamento não seremos competitivos.

É essencial que a produtividade da indústria seja aumentada por meio da qualificação dos trabalhadores e pelo investimento em máquinas mais modernas e eficientes; afinal, o nosso parque industrial está parcialmente sucateado.

O fato é que não podemos competir com outros países em igualdade de condições, quanto mais gerar valor econômico agregado. O custo da energia elétrica (kWh) no Brasil, por exemplo, é um dos maiores do mundo. Diante disso, segmentos eletrointensivos – como os de alumínio, papel e celulose, petroquímicos e siderúrgicos – são duramente afetados. A elevada participação da energia elétrica no custo total da produção inibe consideravelmente os investimentos em novas fábricas no país.

Estamos novamente diante de grandes desafios que precisam ser tratados com urgência se não quisermos ser o eterno país do futuro. No curto prazo, precisamos encaminhar o ajuste fiscal para combater o déficit público, que em 2015 atingiu mais de R$ 114 bilhões. A inflação na casa dos dois dígitos também assusta e corrói a renda de milhares de brasileiros que estão perdendo o emprego. Assim como a alta taxa de juros, que precisa ser reduzida consideravelmente se quisermos voltar a crescer de maneira sustentável e com os investimentos necessários.

O Brasil é um país com condições excepcionais para crescer, é muito maior do que qualquer crise, mas deve ser repensado para que daqui a algumas décadas seja esse Brasil que almejamos. Precisamos fazer a nossa lição de casa.

Enquanto isso, lá em Brasília, la nave va, fazendo água!

Andreas Hoffrichter é diretor da Câmara de Indústria e Comércio Brasil-Alemanha (AHK PR), cônsul honorário da Alemanha em Curitiba e conselheiro de Administração certificado pelo IBGC.
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