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A insegurança alimentar grave atinge cerca de 9% da população, segundo a pesquisa Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A fome e a desnutrição têm ocupado espaço na vida de milhões de pessoas em todo o mundo. O acesso ao alimento, considerando disponibilidade e saudabilidade, afeta todas as faixas etárias e os mais pobres são os mais impactados. A questão se evidenciou ainda mais durante a pandemia. Ossos desprezados pelos frigoríficos passaram a ser disputados como uma “iguaria” na hora do descarte, e depois se tornaram item de venda em alguns açougues.

O problema ultrapassa os aspectos nutricionais e envolve questões no âmbito político, econômico e social. É quando atingimos a chamada “insegurança alimentar”, uma situação crítica que pode comprometer a saúde do indivíduo, coletiva e atingir até o desenvolvimento do país. A expressão está associada ao não acesso regular aos alimentos em quantidade e qualidade suficientes para que se possa sobreviver.

A insegurança alimentar grave atinge cerca de 9% da população, segundo a pesquisa Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

A má alimentação pode causar danos em todas as etapas da vida, desde o desenvolvimento no útero materno até o envelhecimento. Nos jovens, por exemplo, traz o risco de gerar deficiência de concentração, aprendizado e memória. A insuficiência de nutrientes pode, ainda, provocar alterações neurológicas e doenças como hipertensão, diabetes, alterações articulares, cardiovasculares, diabetes, câncer, osteoporose, gastrite, obesidade, colesterol elevado e hipertensão. Por isso, uma vida saudável sempre está atrelada a uma alimentação equilibrada, essencial não apenas para nutrir o organismo, mas para proteção de doenças.

Uma nutrição adequada está atrelada ao desempenho do nosso sistema imunológico e a privação de nutrientes, macro ou micro, está associada a um aumento na probabilidade de doenças ocasionadas por uma má condição de proteção do organismo.

Por isso, a piora na alimentação da população está relacionada diretamente com a dificuldade do corpo humano em combater doenças infecciosas como a Covid-19. Esta pandemia, que assolou o mundo e computou de milhões de mortes, provocou o desemprego e, consequentemente, o aumento da fome. 

Não poder contar com o alimento em quantidade e qualidade satisfatórias para atender às nossas necessidades nutricionais diárias é uma das causas que nos levam a acreditar que os menos favorecidos estarão também menos protegidos em tempos de qualquer pandemia viral, como estamos presenciando nos últimos dois anos.

Historicamente, nossa resistência a doenças, inclusive de origem viral, é proporcional aos cuidados que temos com a alimentação. E a má alimentação é apontada como a principal causa de outra epidemia, a obesidade, sendo ela a desencadeadora de outras doenças, igualmente pandêmicas, que levam a reduzir a possibilidade de cura por viroses agressivas.

A fome ultrapassa os aspectos nutricionais e envolve questões no âmbito político, econômico e social.

Por outro lado, ao mesmo tempo que se busca o maior consumo de alimentos naturais, quando há recursos financeiros para isso, também cresce a demanda por produtos ultraprocessados, que também podem comprometer a resistência a doenças infecciosas em geral.  Portanto, a prática de uma alimentação saudável é a forma mais eficiente para prevenir doenças infecciosas ou metabólicas.

Este cenário de insegurança alimentar ainda agrega outro aspecto relevante: o desperdício de alimentos em nosso país e no mundo. Frutas e hortaliças, seguidas por raízes e tubérculos, estão no topo desta lista de descarte de itens em condições de consumo e que poderiam encher o prato de milhares de pessoas. O primeiro passo para se evitar jogar comida fora é comprar a quantidade adequada para o seu consumo. Também é importante difundir informações sobre o aproveitamento do alimento como um todo, incluindo folhas e cascas, por exemplo. Talos e sementes, que geralmente jogamos fora, são ricos em nutrientes e podem ser adicionados em diversas receitas. 

A insegurança alimentar é um problema de todos nós. Milhões gastos na produção vão para o lixo, enquanto outros milhões de pessoas passam fome. 

Durval Ribas Filho, mestre e doutor em Medicina, é professor de pós-graduação em Nutrologia, autor de “Obeso Acolhido” e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

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