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A disputa em 2022 irá se pautar pela bipolaridade. Os pesos de ambas as candidaturas são inquestionáveis. É um duelo entre dois projetos distintos de país e entre perfis de eleitores também distintos
A disputa em 2022 irá se pautar pela bipolaridade. Os pesos de ambas as candidaturas são inquestionáveis. É um duelo entre dois projetos distintos de país e entre perfis de eleitores também distintos| Foto: Pixabay

A corrida eleitoral entre Lula e Bolsonaro levanta a seguinte questão: existe espaço para uma candidatura intermediária que seja competitiva em 2022? Como forma de responder a essa pergunta, podemos recorrer a certas linhas de força que têm condicionado a política brasileira nos últimos anos. A primeira linha veio a partir da redemocratização, que carregou uma geração de políticos corresponsáveis pelo restabelecimento de um regime republicano. Entre esses, Fernando Henrique Cardoso (FHC), Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff ocuparam a Presidência pelo crivo direto das eleições majoritárias. Itamar Franco, José Sarney e Michel Temer foram todos governos de transição, tanto por serem vice-presidentes quanto por representarem fases de ruptura institucional.

Desse conjunto que compôs a Nova República, apenas FHC e Lula representaram uma divisão partidária, social e ideológica, transmitindo uma imagem de estabilidade institucional, alternância de poder e uma polaridade definidaentre direita e esquerda. A partir do governo Dilma, em especial do segundo mandato interrompido pelo parlamento, uma nova onda eleitoral surgiu e conduziu à eleição de Jair Bolsonaro. A formação desse movimento ocorreu, em parte, devido à influência do Judiciário na agenda político-eleitoral, seja pela Operação Lava Jato ou pelo papel da suprema corte. Atores definitivos, deformando o jogo eleitoral, seja de forma deliberada, seja de forma indireta, ou mesmo pela negligência. Grande parte do cálculo político e da interpretação do cenário para 2022 passa pelo entendimento das ações da suprema corte. Em certa medida, a candidatura do ex-juiz Sergio Moro representaria uma possível via alternativa ao binômio Lula–Bolsonaro.

Entretanto, há de se entender o bolsonarismo e a posição que este movimento ocupa no jogo político atual. Formado pelo capital político acumulado no contexto da Operação Lava Jato, pela sombra da atuação do juiz Sergio Moro e pela ligação com as forças de segurança – Forças Armadas, polícias e grupos de segurança privados –, esse movimento se apropriou da capacidade de antagonizar com o campo heterogêneo da esquerda pós-anos 80. E, para além dessa apropriação, o bolsonarismo passou a se misturar com o crescente papel de certas igrejas evangélicas na disputa pelo controle do aparelho de Estado. Essa composição social de um grupo que, na sua forma radicalizada, combina violência institucional e fundamentalismo religioso, é um fenômeno completamente distinto daquela fotografia social e partidária entre PT e PSDB dos anos 90 e 2000.

O retorno da liderança representada pelo ex-presidente Lula à disputa, devido à decisão do Supremo Tribunal Federal, redefine o papel até então exercido pelo Judiciário na composição de forças político-eleitorais para 2022. De um cenário pautado pela fragmentação da esquerda, sem a existência de uma liderança com potencial individual de fixação de votos; pela divisão da direita entre bolsonaristas e sociais-democratas; e pela existência de lideranças de centro-esquerda ou centro-direita (em partidos de menor força), o retorno de Lula passa a definir as bases da corrida presidencial.

A disputa em 2022 irá se pautar pela bipolaridade. Os pesos de ambas as candidaturas são inquestionáveis. É um duelo entre dois projetos distintos de país e entre perfis de eleitores também distintos, em torno de dois políticos com força própria. Em um sistema partidário fragmentado como o brasileiro, com uma história política marcada por rupturas e descontinuidades ainda presentes na memória, mais o engajamento e a penetração dos militares na política, o jogo eleitoral que virá se dará entre os fortes. Uma verdadeira “guerra eleitoral” pode vir, e será carregada mais pela força dos indivíduos do que dos partidos ou coalizões.

*André Frota é professor de Relações Internacionais, Ciência Política e Geografia no Centro Universitário Internacional Uninter.

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