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A Copa do Mundo serviu para provocar um grande debate a respeito do futebol brasileiro, e não apenas em função da humilhante goleada sofrida para a Alemanha. O contraste entre os estádios cheios e de clima festivo do Mundial com as arquibancadas vazias e silenciosas no retorno do Brasileirão chocou aqueles que não acompanham o futebol brasileiro de perto, e esperavam que o pós-Copa de alguma maneira contagiasse os nossos torcedores. Afinal, onde foram parar todas aquelas pessoas?

Não bastasse a diferença de qualidade e atratividade entre as duas competições, o fato é que a Copa do Mundo é feita sob medida para torcedores que buscam uma ampla experiência de entretenimento e estão dispostos a pagar (caro) por isso, enquanto por aqui insistimos em um modelo que atrai um público que parece estar mais disposto a ir a uma guerra. Sim, mudaram as arenas, mas permanecem os serviços e a "atmosfera" de sempre.

Nosso futebol é voltado para o torcedor fanático, aquele disposto a passar por qualquer privação para ir aos estádios. Concordo que esse tipo de torcedor é fundamental, e pode ser inclusive uma atração (como ocorre com o Borussia Dortmund), pois sua presença evita que os estádios tenham aquele indesejável ar de teatro. Mas é inegável que essa é uma minoria, incapaz de encher os estádios jogo após jogo, e não apenas em finais e alguns clássicos. Pesquisa recente da Pluri mostrou que apenas 12% dos torcedores se autointitulam "fanáticos"; a grande maioria restante está enquadrada como torcedores comuns, simpatizantes e até mesmo indiferentes ao próprio clube. Da mesma forma, os 100% de ocupação dos estádios na Alemanha e Inglaterra (contra 34% no Brasil) não ocorrem em função da presença dos mais fanáticos, e sim daquele que se convencionou chamar de torcedor-consumidor. Porém, a despeito disso, as campanhas de

marketing dos clubes brasileiros mantêm o tom da "obrigatoriedade em ajudar o time do coração", um discurso ultrapassado e que só sensibiliza uma pequena parcela dos torcedores, aqueles poucos que vão aos estádios atualmente.

O torcedor consumidor é um cidadão comum, que possui tempo e dinheiro limitados e, portanto, precisa fazer a melhor escolha de como gastá-lo. Os clubes precisam substituir o velho discurso por uma "proposta de entretenimento", em que precisam transformar a ida ao estádio (independentemente da fase do time) em uma grande experiência de lazer e entretenimento, a um custo competitivo. Fazendo isso, estaremos nos comunicando e atraindo um público muito superior ao que normalmente tem ido aos estádios, aquele que estava lá durante a Copa. E não se esqueçam: uma boa experiência de um jogo de futebol (mesmo sem o devido atrativo – lembram-se de Irã x Nigéria?) é fundamental para que o torcedor abra a sua carteira. Ainda mais se ele estiver acompanhado de esposa e filho(s), geralmente mantidos longe das arenas pelo ambiente de muita guerra e pouca festa.

O futebol atual virou um grande negócio, e montar uma equipe competitiva faz da capacidade de investimento um aspecto cada vez mais determinante; não há como lutar contra isso. Por isso, cada clube precisa convencer (e não obrigar) seus torcedores e simpatizantes a gastar o máximo possível em produtos e serviços relacionados ao seu time do coração. No futebol, como em qualquer outro segmento, o consumidor responde à velha equação: ofereça sempre mais qualidade, ao melhor preço possível.

Fernando Ferreira é sócio-diretor da Pluri Consultoria.

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