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 | Gilberto Abelha/Arquivo Jornal de Londrina
| Foto: Gilberto Abelha/Arquivo Jornal de Londrina

Os dados do Pisa 2015 divulgados nesta terça-feira pela OCDE precisam ser analisados com cautela. Apesar de o Brasil não ter registrado um aumento significativo de desempenho, alguns pontos que podem ser considerados positivos devem ser colocados. O país registrou expansão de oferta de vagas no período, ampliou a proporção de alunos avaliados em nível II ou acima e, talvez o mais importante, reduziu o impacto socioeconômico no desempenho do aluno. Tal fato nos permite pensar que avançamos em relação à equidade, especialmente se lembrarmos que, de maneira geral, o relatório Pisa nos mostra que os países participantes (membros ou não da OCDE) se mantiveram estáveis.

O Pisa, para além de rankings e números, avalia competências básicas para o funcionamento pleno do indivíduo na sociedade. Nesta edição, verifica a capacidade do jovem de interpretar informações sobre ciência e tecnologia no seu dia a dia, muito mais do que o conhecimento de teorias e fatos.

Garantir a formação não é suficiente. O diferencial está na forma como a ciência é ensinada

Isso nos remete aos desafios que o Brasil ainda precisa enfrentar para avançar nesse desempenho. Muito tem se falado sobre a formação de professores. Dados do próprio Pisa apontam que, nos países-membros da OCDE, 84% dos docentes são certificados e 74% têm graduação em Ciências. Entretanto, não registraram avanços significativos no período. Isso demonstra que garantir a formação não é suficiente. O diferencial está na forma como a ciência é ensinada, o que implica em garantir ao professor formação inicial e continuada de qualidade. No Brasil, o desafio é ainda anterior, já que há um déficit de profissionais graduados na área.

O papel das atividades extracurriculares também chama atenção. Os apontamentos do relatório confirmam que não apenas os conteúdos transmitidos em sala de aula impactam no ensino. Os dados demonstram que práticas diferenciadas de qualidade ampliam em 21 pontos o desempenho do aluno e em 30% a probabilidade de optar por uma carreira ligada à ciência. Citaria ainda como pontos de alerta a alta taxa de absenteísmo e de reprovação entre os estudantes brasileiros, quando comparados a outros países. Nosso desafio é implementar estratégias que tenham escala e consigam reduzir as grandes disparidades entre estados e redes de ensino. A construção da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) é positiva nesse sentido, uma vez que nos ajudará a criar expectativas de aprendizagem compartilhadas por todos os estados e municípios. Mas, mesmo com ela, questões estruturantes como investimento em educação, com destaque para a valorização e formação do professor, são urgentes.

Patrícia Mota Guedes é gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Itaú Social.
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