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| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

Tudo o que é miserável, por definição, é desprezível, é triste, é lamentável e perverso. Tudo o que é ignorante é impolido, é selvagem, é incompetente e desinformado. Um Brasil de atual maioria histérica e desinformada, que vê, mas não lê, que dá opinião sem conhecer de fato o que está acontecendo, que discute sem nem saber o que, está cada vez pior. Chegou-se enfim ao pior resultado possível depois de décadas de educação pífia: povo de maioria iletrada, um quadro político-econômico perverso e muitos querendo ocupar um lugar, quem sabe, inexistente.

O ataque da vez é direcionado ao agronegócio, mais precisamente ao uso de defensivos agrícolas e ao desmatamento. A maioria que pensa que o agronegócio usa defensivos de maneira irresponsável e desmata ao apagar das luzes, como acontece com as aprovações das leis no Congresso, está pensando com o modelo mental de 1970. Aceitem, quase 50 anos já se passaram e muita coisa evoluiu. Lá sim, o uso dos agrotóxicos era desenfreado, desmedido, em excesso, mortal, devido à falta de informação no campo e nas cidades sobre seus efeitos. Assim foi com o desmatamento, quando áreas gigantescas eram desmatadas em demonstração de progresso e acesso à modernidade. Duas contas pagas até hoje.

O ataque da vez é direcionado ao agronegócio, mais precisamente ao uso de defensivos agrícolas e ao desmatamento

Atentemo-nos ao primeiro item: uso de defensivos agrícolas. Hoje existem milhares de tipos, para as mais diversas aplicações. Têm por objetivo defender as plantações das pragas, que teimam em destruir as culturas. Não têm por objetivo matar as pessoas ou causar-lhes câncer ou autismo. Responsáveis por 34% dos custos médios de plantio da soja e por 16% do milho, principais grãos plantados no país, pode-se imaginar que o agricultor moderno não tem por hábito querer aplicá-los à revelia ou por hobby, mas mais precisa necessidade. Equipamentos de precisão auxiliam a usar somente onde precisa, onde há a incidência real de pragas, evitando toda e qualquer aplicação sem fundamento científico. Protestar contra o uso de defensivos hoje é o mesmo que pedir aos médicos para não utilizarem mais os medicamentos para combate às doenças. Obviamente que seria melhor não os utilizar, mas os benefícios ainda são maiores que os danos.

Alternativas para o plantio de algumas culturas com uso mínimo de defensivos, principalmente de hortaliças e frutas, já foram implementadas e são muito promissoras. Verdadeiras fazendas, indoor, como se fossem solos no sentido vertical, em forma de fábricas, estão em franca expansão em países do hemisfério norte e logo chegarão com força no Brasil. Mas tudo tem seu custo.

Leia também: Sinal vermelho para o agronegócio (artigo de Adriano Machado e Lara Moraes, publicado em 7 de junho de 2018)

Leia também: Agronegócio para um novo Brasil (artigo de João Guilherme Ometto, publicado em 3 de fevereiro de 2018)

Quanto ao desmatamento. Quem hoje insiste em acusar o agronegócio de desmatar o que resta de matas e florestas no planeta, talvez não tenha lido na íntegra os relatórios da Nasa (que estão medindo nossos centímetros quadrados com raio laser) e da Embrapa (empresa tupiniquim respeitadíssima aqui, por quem a conhece, e lá fora, por todos). Ambos confirmaram que mais de 66% do território brasileiro é de áreas destinadas à proteção e preservação da vegetação nativa: áreas destinadas às unidades de conservação (13,1%), terras indígenas (13,8%), vegetação nativas ou áreas devolutas e não cadastradas (18,9%), e outros 20,5% de vegetação destinada à preservação dos imóveis rurais, imposto por lei. Hoje, entre pastagens e lavouras, temos somente 30,2%, distribuídos entre pastagens (21,2%), florestas plantadas (1,2%) e lavouras (7,8%). Onde está o desmatamento que é mostrado e vendido histericamente?

Sou um entusiasta da defesa da natureza e assim educo meus filhos. Mas o que se vende e se compartilha em mídias sociais precisa ser avaliado. É preciso lembrar que o agronegócio em 2017 representou 23,5% do PIB, a maior participação em 13 anos. Gerou mais de 35% dos empregos diretos no país, mas ao considerar toda a cadeia produtiva, foram mais de 45% da mão de obra brasileira. Foi a maior geração de empregos nos últimos cinco anos. A agricultura foi a principal contribuidora para a redução da inflação, e o único PIB positivo setorial dos últimos três anos. Em 2017, o PIB da agropecuária foi de 13,8% e representou mais de 45% de todas as exportações brasileiras. E aí, é a hora de atacar o agronegócio, de manter o modelo mental de 1970 ou de se atualizar e defender a maior fonte de geração de riquezas do país?

Eduardo Müller Saboia, técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica, trabalha na indústria de maquinários agrícolas e é professor de pós-graduação em Agricultura 4.0 na UFPR.
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