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E se o paciente for você?

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Enfermeiros cuidam de um paciente com Covid-19 na unidade de terapia intensiva do hospital universitário de Essen, oeste da Alemanha, em 22 de março de 2021, em meio à nova onda de coronavírus na Europa (Foto: Ina FASSBENDER/AFP)

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Diante da realidade da pandemia quanto à demanda por atendimentos, temos uma situação clara e grave: o sistema de saúde chegou ao ponto de pletora, de superlotação, e começa a não ter mais espaço para leitos, para assistência intra-hospitalar, mais espaço para absorver o tamanho da procura.

Essa condição de superlotação não é exclusiva, ou específica, de pacientes com Covid-19. Ela atinge todos os demais serviços da saúde, principalmente casos de urgência e emergência que exigem leitos de enfermaria e de UTI. As consultas eletivas também estão suspensas e os ambulatoriais, comprometidos por falta de pessoal e estrutura, além do risco de contaminação.

Eu gosto de futebol e estava vendo jogos no fim de semana. O governo do estado de São Paulo incluiu a suspensão das partidas nas medidas restritivas que adotou. Isso, é claro, tem provocado uma grande polêmica entre os comentaristas esportivos. Um desses comentaristas, um ex-jogador de futebol, falou o seguinte: “olha, é uma situação difícil. Agora, o que nós temos de pensar é o seguinte: e se o jogador quebrar a perna durante a partida de futebol? Vai ter lugar para internar esse jogador para fazer a cirurgia e a correção dessa fratura?” Uma boa pergunta que temos de ampliar para o nosso cotidiano.

Tudo bem, eu não tenho Covid-19 ou já estou vacinado, então não preciso me preocupar e vou para a rua, vou viajar, visitar alguém. Mas e se eu bater o carro no caminho? E se eu for atropelado? Vai haver leito para me internar, para fazer a cirurgia ou me colocar numa UTI se for preciso? E se eu tiver risco de morte, como fica? É essa a questão.

O sistema público tem feito o possível. Ampliou bastante, e de forma concreta, a oferta de leitos e tem procurado descentralizar os serviços que não sejam ligados ao coronavírus para hospitais de porte médio, na medida do possível. Só que chegou ao limite. O limite físico, em termo de disponibilidade de leitos e equipamentos. O limite de insumos, como a medicação sedativa para permitir a intubação do paciente e mantê-lo em coma induzido. Isso já começa a faltar. Estamos no limite de oxigênio para atender a todos. E, o mais grave, chegamos ao limite de profissionais tecnicamente capacitados para o atendimento do paciente com Covid-19.

O que fazer? Contar apenas com a perspectiva de que vamos ampliar indiscriminadamente a oferta de leitos como estratégia para resolver o problema? Isso, além de impossível, não é suficiente como solução para o problema que estamos enfrentando. A gente roda, roda, e cai sempre na mesma situação.

Hoje, temos de intensificar de verdade e para valer, e não de faz de conta, as nossas ações de prevenção e de precaução em relação ao vírus. Os focos centrais dessa precaução, obrigatoriamente, passam por reduzir a circulação de pessoas e, o que seria o mais concreto, aumentar a cobertura vacinal da população numa velocidade muito, mas muito maior do que estamos fazendo. Ocorre que estamos tendo muita dificuldade nas duas questões.

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De um lado, dificuldade por parte da compreensão das pessoas, que não querem mais aceitar nenhum tipo de restrição de circulação. De outro, a impossibilidade de aumentarmos a velocidade, intensidade e quantidade de vacinação, pois, por erro crasso de planejamento federal, perdemos o momento correto para compra das vacinas necessárias e agora temos de amargar na fila das potências mundiais que estão comprando a maioria das doses já disponíveis. E o ritmo atual de vacinação não só não permite o controle da doença como dá espaço de tempo para o vírus desenvolver novas variantes mais graves, como está acontecendo.

Passou da hora de agirmos com consciência, conhecimento e amparados na ciência, com competência.

Gilberto Berguio Martin é médico sanitarista, mestre em Saúde Coletiva, especialista em Saúde Pública e em Planejamento de Sistemas de Saúde, e professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) – câmpus Londrina.

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