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A presença de meninos e meninas nas mesmas salas não determina igualdade entre eles. Nas aulas se reproduzem os estereótipos dos papéis sociais masculinos e femininos

É evidente que homens e mulheres são iguais e diferentes, mas complementares. No artigo "Diferenças entre meninos e meninas na escola" (Gazeta do Povo, 17/7), defendi que na etapa escolar meninos e meninas diferem tanto que exigem aplicação de métodos e técnicas pedagógicas diferentes para atender a suas necessidades específicas.

Não podemos ignorar os resultados práticos e objetivos (cientificamente comprovados, "sem achismos") das escolas diferenciadas (separadas por sexo) em relação às escolas de educação mista (coeducação). O departamento de Educação dos Estados Unidos, em 2006, deu novas regras permitindo a educação diferenciada por sexos no ensino público. Os resultados animadores (www.urbanprep.org.) fizeram com que proliferassem as escolas desse tipo. Das 1890 existentes, 540 são públicas. Re­­portagem do Washington Post de 8/8/2010 conta a experiência de algumas delas e apresenta três modelos quanto à organização: a) as chamadas "dual academy", os meninos e as meninas vão ao mesmo colégio, mas em classes separadas (exceto em ocasiões especiais); b) colégios mistos com classes separadas por sexo unicamente em determinadas matérias, e c) colégios que são só de meninos ou só de meninas.

Nos distritos urbanos (população de minorias e com mais problemas de rendimento escolar de qualidade), as escolas de educação diferenciada são populares e os resultados, ótimos. Uma das principais vantagens é que a diferença entre os sexos pode ser explorada em benefícios de ambos, defende o psicólogo Leonard Sax, autor de livros como Why Gender Matters, e defensor desse tipo de educação.

Cornelius Giordan, sociólogo e educador, (PHD da Universidade de Siracusa, Nova Iorque) há 25 anos pesquisando modelos escolares, em sua conferência no II Congresso Latino-Americano de Educação Diferenciada (Buenos Aires), destacou, em reforço da educação diferenciada: uma escola só pode ser medida pelos seus resultados; a educação mista foi criada com pouca atenção e não existem estudos muito sérios sobre ela; a educação diferenciada é que tem hoje os estudos mais confiáveis e aprofundados sobre educação; não existem diferenças confiáveis em colégios mistos com apenas salas separadas; e como medir o sucesso escolar de uma escola? Citou: Aquisição cognitiva (conteúdo adquirido). Comportamento relacional (disciplina). Desenvolvimento psicossocial (inteligência emocional). Aquisição ocupacional (aproveitamento real do tempo escolar). Controle do próprio entorno (pressão do ambiente). Atenção educacional (concentração).

Na França um artigo de Marie Duru-Bellat, pesquisadora da Sciences Po (academia de Ciências Políticas de Paris), evidencia os estereótipos nas aulas mistas. A conclusão desse artigo de síntese é que a presença de meninos e meninas nas mesmas salas não determina igualdade entre eles. Nas aulas se reproduzem os estereótipos dos papéis sociais masculinos e femininos. Sua pesquisa atribui parte da responsabilidade aos educadores. Sugere que se pense seriamente na possibilidade de voltar às classes separadas por sexos.

Na Suécia, uma comissão de especialistas afirmou que a atual escola, mais do que recortar as diferenças entre os sexos, acentua-as. No Reino Unido, dentre as 50 melhores escolas, encontram-se 36 diferenciadas, e o ministro David Miliband tem insistido nos benefícios para os jovens desse tipo de educação. Na Itália estão reconhecendo a necessidade do ensino diferenciado ("escola do mesmo sexo").

Na Coreia do Sul, das 1.483 escolas com educação diferenciada, 780 são particulares e 703 estatais. No Japão, das 402, 380 são estatais; na África do Sul, das 411, 350 são estatais; na Austrália, das 1.479, 139 estatais; na Nova Zelândia, das 121, 98 são estatais. Faltam dados da Índia, China, Brasil e de outros países asiáticos e africanos.

Na América do Sul, o país mais avançado nessa modalidade educativa é o Chile, com inúmeras escolas públicas. O inegável é que em 70 nações dos cinco continentes há mais de 210 mil escolas de educação diferenciada, com 40 milhões de alunos. Dados que as autoridades educacionais não podem ignorar, mas pensar seriamente. Se no Brasil derem esse passo avançado, como o estão fazendo outros países, teremos uma reformulação real no nosso ensino. Aguardamos o Simpósio Inter­nacional de Educação Diferenciada e Personalizada (www.afef.org.br) que ocorrerá em outubro deste ano no Rio de Janeiro para ver as novidades.

Valdir Fernandes, biólogo e pedagogo, é mestre em Zoologia pela USP e coordenador pedagógico da Escola do Bosque e Mananciais, de Curitiba. valdirfernan@gmail.com.

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