• Carregando...

Apesar de todas as expectativas criadas em torno dos potenciais do pré-sal, é de extrema importância que a maior disponibilidade de combustíveis fósseis não limite a busca por fontes limpas de energia

O Brasil teve um aumento no consumo de energia elétrica de 9,2% de janeiro a agosto de 2010 em relação ao mesmo período de 2009. Os valores, apurados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), chegam a um acumulado de 276,5 mil GWh, sendo a indústria responsável por 43,72% desse montante. É um crescimento substancial, mesmo considerando a queda de produção em 2008/2009 devido à crise econômica mundial.

Mas um fato que levanta questionamentos nesse cenário é que mesmo a eletricidade custando menos no Brasil do que em países desenvolvidos, um estudo feito em 2009 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta um potencial técnico de redução de 25,7% no consumo de energia nas plantas industriais. Ou seja, muitas empresas parecem preferir deixar as instalações antigas como estão a investir em processos e equipamentos de maior eficiência energética, mesmo que paguem a mais por isso. Em outras palavras, desperdiçam energia e repassam o custo ao consumidor final, causando ainda desnecessário impacto ambiental.

A falta de interesse corporativo parece mais clara ao se considerar que o Brasil não tem números consolidados de investimento em tecnologias limpas, enquanto nos Estados Unidos, Europa, Israel, China e Índia, de acordo com a Cleantech 2009, tais recursos foram elevados da ordem de US$ 500 milhões, em 2001, para US$ 4,5 bilhões, em 2006, e US$ 8,4 bilhões, em 2008.

Alguns indicadores brasileiros foram levantados no ano passado pela empresa americana Johnson Controls. O quarto Indicador Anual de Eficiência Energética apontou que 97,5% dos mais de cem executivos brasileiros entrevistados que estão construindo, planejando ou fazendo reformas e adaptações identificaram o assunto como prioridade – a maioria eram CEOs, gerentes-gerais ou diretores de instalações.

Segundo os estudos da empresa, 55% dos líderes de negócios estão prestando mais atenção ao tema; 57% deles responderam que o gerenciamento de energia é extremamente ou muito importante; 47% buscam certificação; 41% planejam incorporar elementos verdes sem certificação; 54% acham que haverá obrigatoriedade de eficiência energética em legislação até 2012.

Mas não apenas as decisões individuais das grandes consumidoras de energia afetam a eficiência energética brasileira. A falta de políticas públicas que incentivem a adoção de práticas mais sustentáveis também é algo que merece atenção. E, apesar de todas as expectativas criadas em torno dos potenciais de exploração do pré-sal, é de extrema importância que a maior disponibilidade de combustíveis fósseis não limite a busca por fontes limpas de energia.

A própria Petrobras parece compreender isso e desenvolveu o Plano Estratégico 2020, com metas de eficiência energética bem específicas em diferentes frentes. Um dos principais pontos foi a criação de 48 comissões internas para conservação de energia, além de cursos de eficiência energética para as forças internas de trabalho e a realização de seminários a cada dois anos, premiando os melhores resultados. Comissões instaladas nas unidades de produção auxiliam na propagação dessa cultura para os funcionários.

Outro ponto positivo que podemos destacar é o Plano Nacional de Energia (PNE 2030), que prevê iniciativas sustentáveis para atender à demanda elétrica brasileira nos próximos 20 anos e considera, por exemplo, que 10% dessa demanda deverá ser atendida por ações de eficiência energética, incluindo programas autônomos. O estímulo à adequação da infraestrutura da planta industrial brasileira é o primeiro passo para a mudança de paradigma necessária junto aos executivos, que devem deixar de lado o antigo conceito de que sustentabilidade e progresso não são compatíveis.

Não se sabe se o mais difícil é implantar novos processos de fato, com ou sem políticas públicas de incentivo, ou mudar a cultura organizacional brasileira de uma forma geral, pois, visando ao lucro imediato, esta pensa em eficiência energética como custo e não como investimento em longo prazo. Certamente instalar novos componentes e fazer adaptações requerem dinheiro, mas o que é preciso fomentar é a noção de que esse dinheiro tem retorno em poucos anos e continua gerando benefício por um longo período.

O conceito parece óbvio, e realmente é, mas quando muitos tomadores de decisões estratégicas fecham os olhos para o mesmo assunto, a obviedade do fato perde a relevância. Ou a maior parte do empresariado brasileiro dá a devida atenção ao que está ocorrendo no mundo ou vai ficar para trás, de olhos fechados.

Luiz Fernando Zanutto, engenheiro eletricista, é vice-presidente da Divisão de Power Electronics da Danfoss América Latina, empresa patrocinadora do World Climate Summit, que ocorreu de 4 a 5 de dezembro em Cancún, no México, durante a COP-16.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]