• Carregando...
 | Evaristo Sá/AFP
| Foto: Evaristo Sá/AFP

O voto é um direito do cidadão. É o instrumento mais eficaz que o povo tem para reeleger representantes que cumprem bem a missão de servir à polis ou de mandá-los para casa quando eles driblam suas funções. A lembrança se faz necessária nesse momento em que o eleitorado começa a escolher os quadros que ganharão seu voto.

Ocorre que esta eleição se apresenta como uma das mais importantes de nossa história. De um lado, trata-se da oportunidade de escolher a pessoa mais capaz de comandar o país, governantes dos estados que o compõem e representantes na esfera parlamentar. De outro, trata-se de eleger os núcleos ideológicos que definirão políticas de Estado.

Portanto, no caso da eleição para a Presidência, o pleito leva em consideração uma visão de mundo, o modo como os protagonistas enxergam as tarefas do Estado, o mercado e a economia (cunho mais estatal ou mais privado), programas sociais, infraestrutura, potenciais e riquezas naturais etc. Numa tentativa de resumir tais visões, chega-se às três principais correntes políticas que governam os Estados modernos: o socialismo, a social-democracia e o capitalismo.

No caso da eleição para a Presidência, o pleito leva em consideração uma visão de mundo

De maneira genérica e sem aprofundamentos (por não ser o objeto desse texto), pode-se dizer que o primeiro tem seu eixo fincado na transformação social por meio da distribuição de riquezas e da propriedade, abarcando a luta de classes (a revolução do proletariado), a extinção da propriedade privada, a igualdade de todos etc. Na teoria marxista, o socialismo encarna a fase intermediária entre o fim do capitalismo e a implantação do comunismo.

O capitalismo se ancora na propriedade privada e na acumulação do capital, tendo como leitmotiv a busca do lucro. Portanto, constitui o contraponto do socialismo. Já a social-democracia abriga a intervenção do Estado na economia (distribuição de renda mais igualitária) e nos programas sociais, sob o escopo do bem-estar social e, no território político, dá guarida à democracia representativa. Emerge como sistema que combina aspectos do socialismo (intervenção do Estado) e do capitalismo (propriedade privada).

O fato é que a derrocada do socialismo clássico, a partir do desmantelamento da União Soviética e da queda do Muro de Berlim, em 1989, estendeu o território da social-democracia, sendo este o modelo de nações democráticas, principalmente no continente europeu.

Leia também: Jogar o jogo democrático (editorial de 17 de setembro de 2018)

Leia também: O risco-Brasil e a irresponsabilidade eleitoral (editorial de 15 de setembro de 2018)

Por nossas plagas, o socialismo tem sido badalado por partidos, a partir do PSB. Alguns, como o PT, chegam a exagerar na defesa do socialismo quando, na verdade, o que fazem é adotar a prática social-democrata ou seguir a trilha de um “socialismo moreno”, aquele que Leonel Brizola e Darcy Ribeiro pregavam: o Estado com o controle de setores da economia (petróleo e energia), e a iniciativa privada com o comércio, a indústria e os serviços.

O que vemos no ideário dos partidos, aliás, é uma identificação com a social-democracia, com ênfase em alguns aspectos, como o repúdio à privatização de empresas estatais (como prega o PT). Acirra ânimos, isso sim, o uso da máquina do Estado, como fez o PT em 13 anos de mando. Política de terra arrasada: “para o petismo, pão; para os adversários, pau; nós, os mocinhos; outros, os bandidos”. Fernando Haddad, a propósito, é um teórico que se declara marxista. Eleito, deixaria seu marxismo a ver navios. Mas o PT não abandonará o palavrório socialista.

Já na outra banda do arco ideológico aparece Jair Bolsonaro, candidato de um Partido Social Liberal, arremedo de costela da social-democracia. Ex-capitão do Exército, simboliza repressão, defende o armamentismo, é antídoto contra tudo que remeta ao comunismo. Nem mesmo é defensor rígido do capital, eis que em seu pensamento viceja uma seara nacionalista e um Estado com controle de áreas da economia, pensamento atenuado por seu guru, Paulo Guedes.

No meio, Ciro, Alckmin e Marina, cada qual puxando o Estado mais para lá ou mais para cá. Resumo: seja qual for o vencedor, a realpolitik brasileira imporá barreiras intransponíveis para a instalação de uma ideologia radical. Disso não devemos ter receio.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação.
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]