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Os homens e mulheres que tomam grandes decisões sobre os rumos do mundo mostraram-se finalmente preocupados com as respostas da natureza sobre os efeitos nefastos que o homem causou ao meio em que vive. A ocorrência de alterações climáticas, no seu início ou na sua plena fase, já representa quase um consenso por parte dos pesquisadores que investigam esses efeitos. E as conclusões das pesquisas já estão nos gabinetes dos políticos, tanto daqueles oriundos dos países mais pobres como dos que atuam em países mais ricos. Estes últimos, os das nações industrializadas, são representantes dos principais responsáveis pelos malefícios causados ao meio ambiente, mesmo tendo acreditado que o "desenvolvimento" traria uma melhor qualidade de vida à população. Com base nessa visão desenvolvimentista (ou de interesse econômico) de curto prazo, vivenciamos, hoje, a tênue possibilidade de reversão desse processo. Esses são, então, os principais responsáveis ou irresponsáveis pelo cenário desse nosso breve futuro. Afinal, na história da Terra, 10 mil anos são insignificantes quando sabemos que a sua idade é de 4,5 bilhões de anos.

O meio ambiente se degradou e suas águas, de superfície e subterrânea, estão escasseando em qualidade. Todos perdem se a gestão ambiental não for adequadamente tratada, até mesmo aqueles que detêm o poder econômico. E é neste ponto que os políticos deveriam dar atenção especial no sentido de proporcionar recursos financeiros às pesquisas ambientais, com ênfase para a descoberta de novas fontes de recursos hídricos em quantidade e qualidade para atender as necessidades da população.

Em meados da década de 90, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) elaborou um projeto para estudar a potencialidade do Aqüífero Guarani, incluindo, naturalmente, o território paranaense no qual está aproximadamente 50% da área total da reserva. Várias universidades do Cone Sul aderiram a essa pesquisa e o Banco Mundial (Bird) doou a quantia de US$ 14 milhões para o estudo desse recurso hídrico. Atrelado a essa doação, sorrateiramente, foi condicionado pelo Bird que a execução dessa pesquisa teria de ser feita por empresas estrangeiras, através de consórcios com empresas nacionais, sendo que o gerenciamento estaria ao encargo da Organização dos Estados Americanos (OEA). A UFPR, proponente do projeto, foi excluída da sua execução, mesmo tendo sido conseguido pelo Bird a chancela da UFPR e do próprio governo do estado do Paraná.

Os interesses do Paraná sobre essa questão – e, pelo que se sabe, também do Rio Grande de Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais – estão dependendo da boa vontade dos "especialistas" contratados pela OEA – basta ter sotaque do "hemisfério norte" para ser melhor do que os tupiniquins – em, pelo menos, repassar informações, se é que já foram conseguidas algumas. O tempo não pára e até o momento nenhum resultado foi divulgado... E tudo isso acontecendo dentro da nossa própria casa!

Reconhecendo a importância desse recurso hídrico para o estado do Paraná, o senador Flávio Arns obteve o compromisso dos demais senadores dos estados do Sul, enviando um documento à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) com o objetivo de conseguir recursos financeiros para que fosse desenvolvido um projeto sobre o Guarani, em acordo com os interesses do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Cada um desses estados, por sua vez, se envolveria com uma contrapartida de igual valor. No caso do Paraná, esses recursos serão cedidos pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Paraná, com a administração financeira da Fundação Araucária; o valor da contrapartida corresponde a R$ 650 mil, totalizando R$ 1,3 milhão para serem usados pela UFPR e pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) durante dois anos de pesquisas. Os R$ 650 mil do governo federal deverão ser repassados da Finep ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sendo que este estabelecerá um contrato com as fundações de ciência e tecnologia de cada estado do Sul do Brasil. Fica criada, assim, a denominada "Rede Sul" do Guarani.

Ernani Francisco da Rosa Filho é doutor em hidrologia pela Universität Würzburg (Alemanha), livre docente pela USP e professor do Departamento de Geologia da UFPR.

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