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O Aeroporto de Congonhas nunca esteve tanto em foco como nos últimos dias. O acidente com o Airbus da TAM reacendeu, tardiamente, a importância da discussão a respeito do futuro do aeroporto mais movimentado do Brasil.

Independentemente do resultado das investigações, algumas medidas urgentes precisam ser tomadas para que novas fatalidades não ocorram. O fato é que essas medidas já deveriam ter sido tomadas há muitos anos, quando especialistas chamavam a atenção para os problemas que o aeroporto enfrentaria. Infelizmente, não existe mágica para sanar esses obstáculos rapidamente.

O futuro do Aeroporto de Congonhas passa por diversas frentes. A principal delas é a redução do número de vôos, que hoje é exagerado e fora da realidade para um aeroporto com uma estrutura extremamente deficiente, com pistas curtas e inadequadas, e que estão cercadas por uma verdadeira muralha de prédios. Essa redução, com certeza, fará com que o aeroporto opere com níveis aceitáveis de tráfego aéreo e, conseqüentemente, de segurança. Isso deve tornar Congonhas um aeroporto para servir exclusivamente a aviação executiva, regional e a ponte aérea, com restrições, com aeronaves que tenham bom desempenho em pistas curtas.

Mas essa redução precisa ser muito bem estudada. Não é possível, de imediato, transferir todos os vôos domésticos para o Aeroporto de Guarulhos, que já está quase saturado. Esse processo deve ocorrer aos poucos e precisa passar pela readequação da malha de rotas das companhias aéreas, que têm Congonhas como principal ponto de conexões. Porém, a transferência dos vôos para Guarulhos, ou mesmo para Campinas, é extremamente onerosa para as companhias aéreas e para os passageiros. Para as empresas, os investimentos realizados nos últimos anos perdem o sentido e os futuros ficam comprometidos. No caso dos passageiros, a distância a ser percorrida até os aeroportos é muito grande e demorada.

A curto prazo não existe uma solução definitiva. Mas a médio e longo prazos, o ideal é que o aeroporto de Guarulhos seja ampliado, com novos terminais e uma nova pista, e que seja construído um novo aeroporto na Grande São Paulo. Essas duas opções devem ser complementadas com um serviço eficiente e rápido de transporte terrestre até o centro da cidade.

O Aeroporto de Congonhas não tem condições de funcionar no ritmo em que opera atualmente, como principal hub da aviação brasileira. São mais de 230 mil pousos e decolagens por ano, movimentando 18,4 milhões de passageiros, em duas pistas deficientes e com um terminal acanhado e aparelhado com apenas 12 pontes de embarque.

É pertinente nesse espaço uma comparação com o aeroporto mais movimentado mundo e que recebe o maior número de conexões nos Estados Unidos. Atlanta tem um aeroporto com cinco pistas com mais de 2,7 mil metros de comprimento, que permitem pousos e decolagens simultâneos e todas equipadas com ILS, além de um complexo de terminais com mais de 150 pontes de embarque. A versão norte-americana de Congonhas recebe quatro vezes mais vôos por ano e está sendo ampliada constantemente para suportar o aumento do tráfego aéreo, inclusive com transporte rápido feito por trens até o centro da cidade. Mas esse crescimento foi projetado há muitos anos e vem sendo colocado em prática com alguns anos antes da previsão de colapso.

No Brasil, ao contrário, é preciso um acidente extremamente grave para que a questão seja ao menos pensada e estudada. E como o novo aeroporto e a ampliação de Guarulhos e Campinas não estavam – espero que agora estejam – nos planos do governo, o Aeroporto de Congonhas terá de se sacrificar por mais tempo.

Não importa o caminho a ser seguido, os investimentos em obras e equipamentos devem ser aumentados, com o foco sempre na segurança das operações aéreas. Não adianta construir terminais que são verdadeiros shoppings – lindos, admito – se não garantem a segurança de quem paga por eles.

Gustavo Ribeiro de Francisco é jornalista especializado em tecnologia.

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