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| Foto: Roslan Rahman/AFP

A Embraer está na linha de fogo de uma batalha intensa entre a americana Boeing e a europeia Airbus, as duas maiores fabricantes de aviões do mundo. Em outro campo similar ao da brasileira encontra-se a canadense Bombardier.

As quatro são as maiores fabricantes de aviões comerciais do mundo, mas seus mercados são diferentes. Enquanto as gigantes Boeing e Airbus atendem todos os mercados acima de 150 passageiros, as aeronaves da brasileira e da canadense reinam justamente nos mercados de aviões comerciais regionais de até 150 assentos, como o Embraer 195 (de até 124 lugares) e o Bombardier CRJ1000 (de até 104 lugares).

Embora Boeing e Airbus só dominem os mercados de aviões maiores, não significa que elas nunca tentaram dominar os voos regionais. A Boeing desenvolveu o Boeing 717 e a Airbus, o A318; ambos foram fracassos de vendas. Enquanto isso, Embraer e Bombardier se especializaram nesse nicho de mercado e prosperaram.

Há alguns anos a Bombardier resolveu desenvolver uma nova aeronave, maior, que pudesse se encaixar entre os modelos regionais e os aviões maiores da Boeing e Airbus; assim nasceu a C Series, com dois modelos que vão de 108 até 160 passageiros, dependendo das configurações de cabine. Durante a fase de testes e apresentações a empresa teve diversos problemas e ficou em complicada situação financeira, mas conseguiu completar o projeto e o avião começou a voar em 2016, após auxilio do governo canadense.

Para a Embraer, a fusão representa uma redução dos riscos e incertezas

A empresa, no entanto, precisava vender mais aviões, e o mercado mais importante do mundo é o norte-americano, mas até aquele momento nenhuma empresa americana havia encomendado o modelo. Precisando da vitrine americana para atrair novos clientes, a Bombardier vendeu, em 2016, 75 aviões do novo modelo para a empresa americana Delta por apenas US$ 19,6 milhões cada, um valor inferior aos US$ 33,2 milhões que a aeronave custa para ser produzida. A Boeing, na sequência, entrou com uma queixa alegando dumping, uma prática ilegal na qual uma empresa vende um produto abaixo do custo para ganhar mercado e prejudicar a concorrência. Acontece que a Boeing não tem um produto similar a esse para oferecer à Delta, pois seu menor avião disponível é o 737, modelo que não era do interesse da Delta, que precisava de um avião menor.

Após a queixa da Boeing, em 2016, o Departamento de Comércio Americano (DoC) impôs uma tarifa de 300% sobre o avião. Isso mataria o projeto e, provavelmente, levaria a Bombardier junto. Mas então surgiu a Airbus. As duas empresas entraram em um acordo e a empresa europeia comprou mais de 50% da linha C Series da Bombardier. Como a Airbus tem uma linha de montagem nos Estados Unidos, estaria isenta dos 300% de imposto de importação. Para a Bombardier, foi um bom negócio: estando junto à Airbus, as vendas do modelo poderão ser muito maiores, visto que a rede de distribuição e contratos da Airbus é muito superior. O avião passou a se chamar Airbus A220 e, em janeiro de 2018, as tarifas foram anuladas pelo DoC.

Com isso, o mercado, tecnicamente, deixou de ter quatro grandes players e passou a ter três: Boeing, Airbus e Embraer. A Bombardier ainda trabalha independentemente com os modelos de até 104 lugares, mas agora diminuiu em importância.

Leia também: Voando mais longe (artigo de Ozires Silva, publicado em 19 de setembro de 2018)

Leia também: Novos voos para a Embraer (artigo de Shailon Ian, publicado em 12 de novembro de 2018)

Antes, a “pequena” Embraer concorria com a Bombardier, de tamanho similar. Agora ela concorre diretamente com a Airbus, pelo menos no mercado da Série 190/195, os maiores aviões da Embraer. Isso mudou totalmente o cenário global da aviação regional, com uma empresa de peso como a Airbus atuando nesse setor.

O próximo passo lógico para Boeing e Embraer passou a ser a fusão das duas. Com isso, a Boeing passaria a poder competir diretamente com a Airbus no mercado regional – até mesmo com mais força, pois teria uma gama maior de produtos para oferecer nesse nicho em comparação com a Airbus. Para a Embraer, a fusão representa uma redução dos riscos e incertezas, visto que agora ela compete com a Airbus e vê empresas russas, chinesas e japonesas entrando nesse mercado.

Muitos brasileiros, como eu, ficam chateados com a possibilidade de a Embraer acabar sendo completamente absorvida no futuro. Mas o dinamismo da indústria aeroespacial é global; o produto da joint venture entre Boeing e Embraer terá uma enorme plataforma de distribuição, com todos os clientes da Boeing como potenciais compradores dos jatos da Embraer. Isso sem falar da possível entrada do KC-390, avião militar cargueiro da Embraer, em novos mercados. Torço muito para que a nova empresa tenha sucesso e que continue orgulhando os brasileiros.

José Roberto Baschiera Junior é empresário no ramo de câmbio e acadêmico do curso de Economia.
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