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Na gênese do aparecimento da motivação do em­­­preendedor social há uma ideia cativante, extremamente significativa: uma fé e ousadia incontida que arrasta e empolga a todos

Zilda Arns escreveu, em 2002, sobre o prêmio que recebera da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que: "Na experiência da Pastoral da Criança, a multiplicação do saber e da solidariedade entre a população pobre e miserável alavanca os serviços de saúde, fazendo com que os excluídos da comunidade se incluam como protagonistas na construção de um mundo mais justo e fraterno, gerando, para todos, a paz".

Chama a atenção a capacidade empreendedora dessa grande heroína, pois, a partir de uma paixão pelo bem do próximo, e da fundamentação científica fortemente escorada pelo hábito de trabalho árduo, imprimiu um ingente esforço, pessoal e articulado, com uma imensa equipe de trabalho voluntário. Atingiu resultados sociais, não somente admiráveis, mas, sobretudo, modelares. Pois o empreendedor social, não somente nasce, mas faz-se, e pode ser promovido em nosso país. Para tanto, basta que se invista na educação das motivações de caráter intrínseco e transcendente, favorecendo aquilo que São Josemaría Escrivá explica no ponto 820 do livro Caminho: "Não julgues nada pela pequenez dos começos. Uma vez fizeram-me notar que não se distinguem pelo tamanho as sementes que darão ervas anuais das que vão produzir árvores centenárias".

O empreendedor social forja-se no seio de uma família, como a semente que se desenvolve até chegar à condição da árvore que produz frutos. É o que escreveu Zilda Arns: "Como a educação era a prioridade na minha família, aos 11 anos fui a Curitiba, no estado do Paraná, para prosseguir meus estudos. Eu estava motivada a cursar Medicina, ser missionária, navegar pelo maior rio do mundo, o Amazonas, e curar da malária aquelas famílias pobres que viviam em palafitas à beira dos rios. Mas meu pai me dizia que eu deveria ser professora, pois a educação era o que mais faltava ao mundo; minha mãe apoiava meus sonhos e dizia que valiam a pena. Enquanto cursava Medicina, meu pai reclamava que deveria aprender muito mais sobre a prevenção das doenças, sobre a alimentação, as vacinas e a participação comunitária".

Na gênese do aparecimento da motivação do empreendedor social há uma ideia cativante, extremamente significativa: uma fé e ousadia incontida que arrasta e empolga a todos. Parece evidente que, uma liderança desse tipo, inspira uma poderosa confiança, e esta nasce do fato de se perseguir um fim, que é um bem para todos e é fortemente compartilhável e faz despertar as energias da inteligência e da vontade para perseguir a meta. Lutar por uma causa pequena, não significativa, não vale a pena, o sacrifício e o esforço a ninguém atraem!

Ela mesma num artigo publicado na Revista Panamericana de Salud Pública, em setembro de 2002, em agradecimento ao prêmio da OPAS, explica a sua ideia força: o princípio motor que a levou à execução da Pastoral da Criança. A sua ação imperiosa fundamentou-se em princípios e valores orientadores. Explica: "O trabalho inspirou-se na mística de transformar a fé na prática da fraternidade. A metodologia foi baseada no Evangelho de São João (Jo 6, 1-15), que versa sobre o milagre da multiplicação de cinco pães e dois peixes que saciaram 5 mil pessoas, após terem sido abençoados e repartidos, sobrando ainda 12 cestos de restos. É assim que, na Pastoral da Criança, se organizam as pequenas comunidades, identificando líderes que queiram assumir de forma voluntária esse trabalho e que recebem ajuda para viver uma mística de fraternidade, tendo como missão multiplicar os conhecimentos e a solidariedade entre as famílias vizinhas".

Joel Barker ensina que os lideres criam uma visão significativa, compartilhada com a equipe, abrangente e detalhada, positiva e inspiradora para chegar aos resultados.

Os empreendedores sociais se caracterizam pela busca de um bem social, eles podem atuar em qualquer tipo de organização, pois se trata de procurar resultados excepcionais para o fortalecimento da base da pirâmide social.

Para estimular o desenvolvimento desses empreendedores sociais é preciso focar nas suas características: 1) têm o objetivo primordial da criação de valor social; 2) demonstram habilidade para reconhecer e aproveitar as oportunidades em benefício da comunidade; 3) inovam nas propostas para resolver problemas sociais; 4) aceitam riscos superiores aos dos empresários; e 5) são incansáveis ao enfrentar as dificuldades. Em resumo impulsionam uma atividade movida por uma missão significativa que dá conteúdo aos objetivos sociais perseguidos.

Paulo Sertek, doutor em Educação, professor da FAE-Centro Universitário e autor dos livros: Responsabilidade Social e Competência Interpessoal; Empreendedorismo; e Administração e Planejamento Estratégico. Consultor da Bellatrix Gestão em Planejamento e Marketing. paulo-sertek@uol.com.br

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