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Enem 2020: Não existe solução livre de perdas
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A marcação original e o posterior adiamento do Enem 2020 mobilizaram grande parte da sociedade em torno de um debate que, mais uma vez, ilustrou o poder da pandemia de afetar aquilo que antes conhecíamos como “a vida normal”.

Quando diferentes lados da questão central envolvendo o Enem são analisados de forma técnica e ampla – sem a miopia causada pela politização do tema -, é possível perceber que inexiste um cenário ideal, onde todos os estudantes brasileiros saiam ganhando. Independentemente da data de realização, o Enem sob a Covid-19 já teve parte de seu propósito original comprometida.

A ideia inicial de manter a data do exame prejudicava alunos de escolas públicas que estão, em sua maioria, sem aulas durante o isolamento social, seja pela falta de acesso à internet, seja pelo eventual descumprimento do envio de atividades domiciliares por parte de algumas escolas. Adiar o Enem, no entanto, não curará a já conhecida ineficiência da educação pública brasileira, um problema endêmico.

Por outro lado, o eventual adiamento do exame pode prejudicar o calendário das universidades públicas, e frustra estudantes que já se formaram no ensino médio, mas prestariam o Enem mais uma vez em busca da vaga dos seus sonhos. De acordo com levantamento feito pelo Ministério da Educação, mais da metade dos indivíduos que se inscreveram para o exame já concluíram o ensino médio.

Tentar poupar os estudantes que não têm acesso a boas aulas neste momento ou tentar preservar os sonhos e planos de quem estudou por conta própria o ano inteiro são, por si só, ações que não deveriam ser indissociáveis, mas que acabaram se tornando incompatíveis.

A verdade objetiva é que a Covid-19 provou aquilo que dizíamos já saber: a convivência em sociedade requer empatia. Vivenciamos um momento no qual todos perderemos algo. Ninguém passará incólume aos efeitos econômicos da pandemia e, quanto mais cedo apreendermos esta realidade, mais efetiva será a busca pelo “meio-termo possível”, ou seja, por soluções que minimizem danos.

Eventuais politizações e solicitações sectárias não são benéficas para o país em um momento no qual todos estamos, se não no mesmo barco, ao menos na mesma tempestade.

Curiosamente, a própria situação vivenciada pelas escolas particulares ilustra com exatidão o poder destrutivo que a falta de empatia e compreensão entre duas partes possui. Neste momento, milhares de escolas estão com sua sobrevivência ameaçada devido à polêmica envolvendo a possibilidade de redução do valor das mensalidades.

São inúmeros os casos em que a comunidade escolar não conseguiu chegar a um consenso – e aqui não há nenhum juízo de valor, afinal, é impossível rastrear as razões particulares que norteiam as decisões de cada instituição privada – e, como resultado, segmentos inteiros estão sendo fechados, educadores estão sendo demitidos, e crianças (especialmente as da Educação Infantil) estão ficando sem as aulas que tanto amam.

Em tempos de Covid-19, a educação nos convida mais uma vez a construir pontes. Será que estamos prontos para esta árdua, mas imprescindível, missão?

Ulisses Cardinot é graduado em Pedagogia com MBA em Economia e Gestão Empresarial pela FGV. CEO & Dreamer da International School.

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