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A melhor maneira de saber se a educação está funcionando a contento é através de uma avaliação periódica e detalhada

Houve falha na complicadíssima logística envolvida na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e essa falha deu origem a um ato criminoso que atingiu mais de 4 milhões de estudantes, seus pais, professores e todos nós. Estamos chocados com o vazamento da prova. Mais que chocados, estamos indignados.

O prejuízo é imenso. Vai além dos R$ 30 milhões avaliados para a realização da nova prova: corre-se o risco de ver disseminado o sentimento de descrença quanto ao Enem e quanto às instituições do país.

Mas tentemos ser otimistas, pois algo, ou muito, se salvará desta tragédia. Primeiro, a reafirmação da confiança no papel da imprensa li­­vre e ética, que agiu de modo irrepreensível, tendo acesso à informação e levando-a ao conhecimento do MEC, sem deixar de divulgá-la. Em segundo lugar, a reação do próprio MEC, que tomando conhecimento dos fatos, suspendeu a realização do exame e pediu aos órgãos competentes a devida investigação, já trabalhando para a aplicação da nova prova. Depois desse fa­­to, contudo, esperamos que o sistema seja aperfeiçoado com melhores condições de segurança e confiabilidade.

A educação tem um grande custo para toda a sociedade, seja em escolas públicas ou privadas, em impostos ou mensalidades. Vale cada centavo, pois é arma poderosa para o real desenvolvimento de um país; o meio mais legítimo de promoção de justiça social. E a melhor maneira de saber se está funcionando a contento é através de uma avaliação periódica e detalhada, a nos mostrar se o que esperamos como resultado de nossos esforços e investimentos está se concretizando.

Para avaliar o ensino médio – sua qualidade e seus pontos fracos e fortes – é que o o Ministério da Educação estabeleceu o Enem, aplicado anualmente mediante inscrição voluntária. O exame é utilizado como critério de seleção para a concessão de bolsas de estudo no Programa ProUni (Universidade para Todos) e como complemento, ou etapa única, ao processo vestibular de inúmeras instituições de ensino superior.

Embora a adesão ao novo Enem não tenha sido imediata ou total dentro das institiuções de ensino superior, algumas vantagens irão advir da discussão ampla desta proposta, já que uma postura crítica diante das formas de se elaborar exames seletivos já se fazia necessária. Mesmo considerando-se que a proposta aos diversos estabelecimentos dedicados ao ensino superior, privado ou público, não foi feita com tempo hábil para maiores discussões.

Para todas as áreas de conhecimento, a proposta do novo Enem é trabalhar os conteúdos das avaliações de tal forma que o aluno possa demonstrar seu domínio das linguagens, ou seja, utilizar não apenas a norma culta da língua portuguesa, mas também as linguagens matemática, artística e científica. Não é uma má proposta, certamente. Avaliação, porém, é muito mais que mera coleta de opiniões, elaboração de provas e correção de resultados. Toda avaliação está ancorada numa política, no mais amplo sentido deste termo – e esta política nunca poderá ser partidária. Aquele que avalia precisa de um conhecimento sobre a área, de clareza sobre a norma metodológica, de profunda reflexão sobre os instrumentos a serem utilizados, sobre a logística e sobre a consequência de sua aplicação.

Avaliar é atividade extremamente complexa, que demanda um olhar especializado, não exclusivamente sobre resultados, mas, principalmente, sobre o procedimento utilizado. Avaliação pode resultar na criação de novas estratégias, na revisão de conceitos, na adoção de novas práticas e na reformulação de procedimentos. Avaliar o sistema educacional de todo o país tem imensas repercussões sobre o futuro de todo o processo educacional brasileiro – mudando currículos e didáticas, transformando instituições.

Discutir um pouco mais sobre o assunto, pelo menos por alguns meses, teria sido simples – e teria evitado erros graves. Com o vazamento da prova, perde-se muito em credibilida­­de. Fica a lição. Afinal, o país já não pode mais se dar a esse luxo.

Wanda Camargo é presidente da Comissão do Processo Seletivo da Unibrasil (Faculdades Integradas do Brasil).

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