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Já é conhecimento comum que a economia brasileira passa por um bom momento e apresenta taxas de crescimento bem acima da média dos últimos 25 anos. No entanto, a economia mostra sinais de perda de fôlego, em grande medida, como conseqüência de medidas tomadas pelos nossos gestores de política econômica. Um bom exemplo é que, após perder a liderança no ranking dos juros para a Turquia, em julho de 2007, o Brasil voltou ao primeiro lugar, em 2008. Com as expectativas de elevações adicionais dos juros, o país manterá essa posição indesejada por alguns anos.

O aumento recente dos juros nominais se deve ao fato de que este é o principal instrumento utilizado para controlar a inflação, ainda mais se considerarmos seu efeito de apreciação cambial, que torna os produtos importados mais baratos. Desse modo, os juros reduzem a demanda interna e o preço dos produtos importados, sendo que os dois efeitos tendem a reduzir o nível de inflação doméstica.

No entanto, para alcançar o equilíbrio interno, ou seja, o controle da inflação, recorre-se a um instrumento que tem efeitos negativos sobre o equilíbrio externo devido aos impactos negativos sobre a balança comercial. Anthony Thirlwall, um célebre economista pós-keynesiano e professor da Universidade de Kent – Inglaterra, mostrou a importância de se manter o equilíbrio nas contas externas para que um país mantenha um crescimento sustentável no longo prazo.

A idéia é relativamente simples: quanto maior a taxa de crescimento econômico de um determinado país, maiores serão suas compras do resto do mundo, pois o aumento da renda leva os consumidores a comprarem mais bens de outros países, além da maior demanda por máquinas e equipamentos importados por parte das empresas com aumento de vendas. Assim, o crescimento pressiona as contas externas de um país e, caso não ocorra uma elevação das exportações, acumula-se dívida externa.

O aumento da dívida externa após um determinado nível, por sua vez, leva a crises externas com uma série de conseqüências sobre a saúde econômica do país, como já estamos acostumados a presenciar. O primeiro efeito é a mudança do fluxo de capitais externos que se tornam escassos. Se um determinado país tem um déficit em conta corrente, ou seja, se ele é dependente de poupança do resto do mundo, ocorre um ajuste forçado com uma relevante depreciação cambial de modo a estimular a balança comercial e gerar superávits na conta corrente.

No entanto, o processo de ajuste não é suave e causa grandes seqüelas na economia. Juntamente com a depreciação cambial, ocorre um significativo aumento da dívida das instituições (públicas ou privadas) que tenham passivos em moeda estrangeira. A piora financeira destas leva a uma redução dos empréstimos domésticos devido à elevação dos riscos e, juntamente com a queda da demanda interna devido à redução do consumo e do investimento pela deterioração das expectativas, gera falências das instituições mais vulneráveis. Desse modo, se inicia um ciclo de deterioração das relações de débito e crédito, além das expectativas, podendo levar o país a uma profunda recessão.

Esse cenário sombrio ainda está longe da atual realidade da economia brasileira. No entanto, cabe ressaltar que já passamos por várias situações semelhantes desde o início da década de 80, o que ajuda a explicar o pífio desempenho da economia brasileira desde então. Adicionalmente, as previsões de déficit em conta corrente feitas pelo Banco Central chegam a US$ 21 bilhões, em 2008, o que muda consideravelmente a situação externa da economia, no médio prazo. Assim, se os gestores de política econômica desejam mudar a rota de crescimento, eles precisam prestar mais atenção no equilíbrio externo – e não somente no equilíbrio interno.

Luciano Nakabashi é doutor em Economia, coordenador do boletim de Economia & Tecnologia e professor do Departamento de Economia (Depecon/UFPR).

Marcelo Luiz Curado é doutor em Economia, chefe e professor do Departamento de Economia (Depecon/UFPR).

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