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Em artigo publicado na Gazeta do Povo na última terça-feira, o professor Cássio Rolim apontou um aumento de custo entre o projeto antigo e o que desejamos para o metrô de Curitiba. O que é necessário esclarecer é que, na verdade, esse aumento representa uma economia, pois o custo no projeto original estava avaliado incorretamente. Se aquele projeto fosse executado, fatalmente seria interrompido antes da conclusão da obra, tornando-se um monumento ao desperdício de dinheiro público e à falta de planejamento. Sairia muito mais caro.

Não sabemos, ainda, qual o custo real do metrô, mas está claro que os R$ 2,3 bilhões do projeto original não são suficientes. Iniciar a obra com esse orçamento seria uma irresponsabilidade. Por isso mesmo foi aberta a Proposta de Manifestação de Interesse. A partir dela teremos respondidas várias questões referentes à exatidão de todos os custos, ao método construtivo, e ao grau de interferência da obra na vida das pessoas e na dinâmica da cidade.

A defesa do modal implantado em Portugal, na mesma edição da Gazeta, esbarra na constatação de que o metrô português é de superfície. E com isso chegamos também à proposta do engenheiro Alex Maschio: em vez de metrô, fazer um veículo leve sobre trilhos (VLT) nas atuais canaletas. As duas ideias seriam excelentes, se não levássemos em conta dois aspectos essenciais: os cruzamentos e o impacto na paisagem urbana e na qualidade de vida.

Para trocar o Expresso pelo VLT, seria melhor ficar com os ônibus, pois o VLT não aumentaria significativamente a capacidade de transporte. Além disso, ao contrário do ônibus, o VLT não pode variar sua trajetória, já que depende de trilhos para se movimentar.

O VLT apresenta, ainda, o problema das passagens de nível. Teria de parar nos cruzamentos, o que tornaria inócua a substituição. O mesmo problema ocorreria com o metrô de superfície. Mas é necessário elevá-los, dirá o leitor. Porém, essa solução teria alto impacto sobre a qualidade de vida no entorno.

Em qualquer cidade, em torno dos viadutos, pontes e outros elevados, o ambiente se deteriora. Tanto que no Rio os grandes elevados do Centro estão sendo demolidos, pois praticamente destruíram a região. O Minhocão de São Paulo leva à mesma constatação. A poluição visual e a poluição sonora são terríveis.

Mesmo no modelo não elevado, investir no metrô de superfície significaria dividir a cidade em duas, pois a transposição de sua linha seria dificílima, para veículos e pedestres. Se olharmos para Porto Alegre, veremos que o Trensurb, que é um veículo de alta velocidade e de superfície, provocou uma chaga na paisagem urbana.

Por fim, Curitiba não está abrindo mão de um modal de transporte para investir em outro. Ao contrário, o que a administração municipal busca é a multimodalidade: BRT, ônibus convencional, bicicletas, VLT, metrô e pedestres (circulando sobre calçadas de qualidade), tudo isso convivendo com veículos particulares, táxis e o compartilhamento de veículos (carsharing).

Seguindo seu Plano de Mobilidade, Curitiba contará ainda com bicicletários e estacionamentos integrados ao transporte público, que irão permitir a troca de modal de transporte a qualquer momento. Ninguém deve ser obrigado a usar um único meio de transporte. Todos têm o direito de mudar sua rota sem que isso se torne um suplício.

A vida moderna é dinâmica e a cidade precisa se adaptar aos novos tempos, oferecendo opções aos cidadãos. Essa é a Curitiba que queremos construir, tendo sempre o ser humano como medida e foco central.

Sérgio Póvoa Pires é presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).

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