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Felipe Lima

Todo o movimento em razão da aventura urbana nos parece exatamente assim: como fazer para se deslocar de um lado para o outro na cidade? O que mais atrapalha nesta aventura? Onde posso estacionar meu veículo?

Os veículos passaram a fazer parte do nosso cotidiano em 1886, quando Karl Benz patenteou o primeiro automóvel. A partir de 1956 a indústria automobilística foi instalada no Brasil e gradativamente foi crescendo e tomando quase todo o espaço das vias urbanas. O lado positivo é que essa expansão impulsionou o surgimento de ligações entre cidades, tanto de pessoas quanto de mercadorias.

Mas onde deixar o veículo? Qual o custo e quem pode pagar por isso? As respostas para essas perguntas são muitas vezes perturbadoras. Há empresas que procuram facilitar, oferecendo vagas de estacionamento durante o período de permanência em suas instalações. Porém, nestes custos estarão contemplados também os sobrepreços das mercadorias, e muitas vezes nem nos lembramos disso.

Alguns países optaram por estacionamentos subterrâneos feitos em parceria público-privada

Outro fator que chama a atenção são os custos dos empreendimentos imobiliários, que estão relacionados aos dos estacionamentos. Por meio de parâmetros contidos nas leis urbanísticas, cada tipo de empreendimento tem uma exigência quanto ao número de vagas para veículos. E, como tudo está embutido no preço final, os custos para ocupação dos espaços públicos e vias urbanas, por mais que estejam relacionados às vagas rotativas e pagas por hora de permanência, também geram custos adicionais com os chamados “flanelinhas”, que admitem cuidar dos veículos em troca de alguma vantagem financeira.

Resumindo: toda a nossa aventura urbana se inicia e finda em algum local para estacionar nosso veículo – em casa, no trabalho, no lazer, na rua. Soma-se a isso a agravante do tempo gasto na procura por algum lugar para deixar o carro e dos níveis de poluição que essa busca provoca. Mas, optando por utilizar os veículos individuais, sempre temos de resolver o problema intrínseco de estacioná-lo.

Podemos pensar em soluções semelhantes às de alguns países, que optaram por estacionamentos subterrâneos feitos em parceria entre poder público e iniciativa privada, localizados próximos aos terminais de transporte coletivo ou em locais onde o fluxo de comércio e serviços seja maior. Desta forma, além de os espaços públicos das vias serem devolvidos aos pedestres, os motoristas também podem planejar antes mesmo de sair dos seus destinos o local em que irão estacionar seus veículos, evitando congestionamentos na procura da vaga. Esta solução pode ser válida com o uso de aplicativos de smartphone que tenham informações sobre preços e vagas disponíveis.

Outra alternativa estaria vinculada ao setor imobiliário: construção de edifícios-garagem em áreas também com grande demanda comercial e de serviços. Até mesmo um sistema de compartilhamento de veículos seria válido em alguns condomínios, que poderiam ter automóveis que fizessem determinadas rotas de transporte.

Se a tendência de aumento no número de veículos se confirmar, o que a prática nos diz é que deveremos, consequentemente, ter mais vagas para estacionar. Entretanto, não podemos e nem devemos colocar o espaço público para “servir” a essa tendência, já que é utilizado pelos pedestres.

Gilda Amaral Cassilha, arquiteta e urbanista, é mestre em Administração Pública e Planejamento Urbano e professora de Planejamento Urbano e Regional da PUCPR.
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