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De acordo com dados divulgados em maio de 2014 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças isquêmicas do coração são a principal causa de mortes no mundo. Somente em 2012 foram mais de 7 milhões de pessoas, muitas delas prematuras (antes dos 70 anos). No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, esse número não é diferente. Em 2013, foram registradas 85,9 mil mortes em decorrência de infartos do miocárdio. Um número alarmante, que cresce a cada ano.

É mais angustiante ainda pensar que a maioria dessas mortes poderia ser evitada. Algumas doenças que interferem na saúde do coração são pouco conhecidas entre médicos e pacientes, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento. É o caso, por exemplo, da hipercolesterolemia familiar (HF), uma doença genética que pode ser a causa de problemas prematuros no coração. Uma das preocupações dos especialistas é que, no mundo, menos de 10% da população têm diagnóstico confirmado e, pior, menos de 25% estão em tratamento. Apesar de algumas nações europeias abordarem o tema com maior interesse, a preocupação em divulgar as informações sobre a doença no mundo está muito longe do ideal. A hipercolesterolemia familiar, inclusive, já foi reconhecida pela OMS como um problema de saúde mundial e, por isso, deve estar contemplada nos esforços globais para reduzir drasticamente a mortalidade no mundo.

A hipercolesterolemia familiar já foi reconhecida pela OMS como um problema de saúde mundial

Felizmente já existem iniciativas que favorecem a mudança desse cenário. Em 2012 foi criado o programa Hipercol Brasil, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que busca ativamente pacientes com a doença. No mesmo ano, foram publicadas as Diretrizes Brasileiras sobre Hipercolesterolemia Familiar pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, visando educar os profissionais de saúde sobre a doença. Em 2014 foi criada uma Associação de Hipercolesterolemia Familiar, que tem ajudado a divulgar para a sociedade a existência da doença, quais são os fatores de risco, como diagnosticá-la e, principalmente, tratá-la. Mas certamente ainda existe muito espaço e ações que podem informar a população sobre ela.

No Brasil, o tema acaba sendo pouco explorado pela falta de informação dos próprios médicos. Por isso, o material científico que será lançado nesta semana em Curitiba está ganhando relevância no cenário médico brasileiro. Trata-se de um livro inédito na América Latina sobre a doença, publicado por membros da Rede Iberoamericana de Hipercolesterolemia Familiar e deve, inclusive, servir como ponto de partida para reduzir a incidência de doenças coronárias e diminuir os gastos com a saúde do coração no país.

Com medidas eficazes e políticas públicas que contemplem a atenção primária à saúde e a conscientização da população sobre os fatores de risco relevantes para diagnosticar a hipercolesterolemia familiar, será possível reduzir significativamente o número de mortes por doenças prematuras do coração no Brasil. Se nada for feito, continuaremos afetando a qualidade de vida dessas pessoas e a contribuição econômica e social que elas representam.

Raul D. Santos é diretor da Unidade Clínica de Lípides do InCor – HC-FMUSP, assessor de pesquisa do Centro de Medicina Preventiva e do Núcleo de Apoio à Pesquisa (Napec) do Hospital Israelita Albert Einstein.
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