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| Foto: Bill Pugliano/AFP

O desenvolvimento tecnológico tem progredido exponencialmente, dando origem a avanços como a inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT), robótica, big data, computação na nuvem, impressoras 3D, algoritmos avançados, machine learning (máquinas que aprendem), nano e biotecnologias, fintechs (uso de novas tecnologias para o setor financeiro), drones etc. E logo estarão incorporados ao nosso cotidiano avanços como os carros autônomos e a telefonia 5G, dez vezes mais rápida que a 4G.

Essas novas tecnologias, por si sós, não definem a indústria 4.0, mas servem de insumo, por meio de sua convergência, para a implementação de fábricas inteligentes. “Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes” – faz-se oportuno Klaus Schwab, autor do livro A Quarta Revolução Industrial.

Uma das características da indústria 4.0 (Quarta Revolução Industrial) é a intensa e crescente automação das fábricas, cumprindo-se, em tom jocoso, a profecia de que a fábrica do futuro terá apenas dois operários: um homem e um cachorro. Função do cachorro: não permitir que o homem toque nas máquinas. Função do homem: alimentar o cachorro.

Das três grandes oportunidades para o seu desenvolvimento ao longo da história, o Brasil aproveitou apenas uma

Como pano de fundo, cumpre lembrar que a história da humanidade passou pelos umbrais de três grandes processos transformadores. A Primeira Revolução Industrial foi iniciada na Inglaterra a partir de 1760, com a invenção da máquina a vapor e sua utilização na indústria têxtil, locomotivas e navios, produção de aço e ferro em larga escala etc. A Segunda Revolução Industrial, com início aproximado em 1850, se caracterizou pela invenção do motor a combustão interna movido a petróleo (e seu uso em profusão nos aviões, automóveis e navios) e a eclosão do uso da eletricidade, rádio, televisão, telefone, telégrafo sem fio etc. A partir da Segunda Guerra Mundial, emerge a eletrônica, a informática, a corrida espacial, a energia atômica e a engenharia genética, marcos determinantes para se denominar a Terceira Revolução Industrial.

Evidentemente, há uma área borrada entre o que se pode definir como tecnologia da Terceira ou da Quarta revolução, mas é uma discussão bizantina, irrelevante, pois é preponderante e inegável que estamos vivenciando o limiar de transformações disruptivas e avassaladoras, com elevados impactos nas relações de trabalho, geopolítica, costumes, ética e afetos. Já há quem diga que um novo ser humano está surgindo.

Nos últimos 250 anos, sob a égide das três revoluções industriais, os avanços tecnológicos e de produtividade promoveram saúde, longevidade, bem-estar e aumento da renda per capita. Cada uma das revoluções trouxe uma nova dinâmica para a empregabilidade, com funções que se tornam dispensáveis e outras que emergem. A intensidade de adaptação de indivíduos e nações às mudanças indica o grau e a qualidade de sua sobrevivência. Um exemplo clássico é a Itália, com passado glorioso, porém resistente aos avanços tecnológicos; consequentemente, hoje se mantém na rabeira das nações desenvolvidas.

Valho-me do muito bem estruturado livro A História da Riqueza no Brasil, de Jorge Caldeira, para afirmar que o nosso país, das três grandes oportunidades para o seu desenvolvimento ao longo da história, aproveitou apenas uma, pois, para nosso enlevo, de 1890 a 1930, o governo central destravou o setor privado e o Brasil tornou-se um dos países que mais cresceram no mundo.

Leia também: A quarta revolução é industrial (artigo de Daniel da Rosa, publicado em 10 de março de 2017)

Leia também: Desemprego 4.0 – não é pessimismo, é choque de realidade (artigo de Vinicius Maximiliano, publicado em 21 de dezembro de 2017)

Entretanto, duas janelas de oportunidade foram desperdiçadas. A primeira, de 1820 a 1890. No início desse período, Estados Unidos e Brasil tinham economias muito parecidas: exportações anuais de 4 milhões de libras esterlinas, população em torno de 5 milhões e rendas per capita não tão díspares, US$ 670 para o Brasil e US$ 1,3 mil para os EUA, ou seja, beirava o dobro. Já em 1890, a renda per capita americana superou a brasileira em 5,7 vezes. O que aconteceu? A partir de 1820, os EUA se abraçam ao capitalismo, revolucionam o papel do governo, incorporam as inovações da Primeira Revolução Industrial, abrem em profusão escolas e universidades. Nesse período, o Brasil pouco avança na alfabetização – de 2%, chega a apenas 17% da população, ao passo que EUA e outras nações dão saltos gigantescos na alfabetização.

Para Jorge Caldeira, desde o período do regime militar a segunda janela foi desperdiçada, pois, em nome de um nacionalismo, cometeu-se um monumental erro estratégico ao não se abrir o país suficientemente para o mercado externo, limitando ou proibindo a importação de equipamentos eletrônicos e outras tecnologias. Em sentido oposto, trafegam nações asiáticas como o Japão e as emergentes China, Coreia do Sul e Cingapura. Em 1972, quando do aperto de mãos entre Richard Nixon e Mao Tsé-tung, a China tinha um PIB correspondente ao dobro do Brasil. Embora comunista, fez a abertura comercial e hoje seu PIB é cerca de seis vezes maior que o nosso.

Reconhecidamente, o Brasil tem muitas ilhas de excelência, seja no agronegócio, seja na indústria (produção de aviões, extração de petróleo em águas profundas etc.). Porém, é pouco provável que o país esteja preparado para o advento da indústria 4.0. Não temos uma agenda desenvolvimentista, tampouco a educação é uma prioridade nacional, conquanto “a escola seja a nova riqueza das nações”, nas oportunas palavras de Peter Drucker. E sem profissionais qualificados, o atraso se perpetua.

Jacir J. Venturi, engenheiro e matemático, é coordenador na Universidade Positivo.
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