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Ex-presidente da Bolívia Evo Morales| Foto: Federico PARRA/AFP

O que Evo Morales e Lula têm em comum? A principal das características semelhantes entre os dois é o pleno entendimento de como manipular a cultura latina, avessa à evolução pela falta de acesso ao conhecimento e à experiência. Outra semelhança está no uso das estatais Petrobras e Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) para se tornarem milionários.

]São cinco os casos de corrupção conhecidos da YPFB. O caso “taladros” é o mais recente, e trata de irregularidades no processo de contratação da empresa italiana Drillmec. O chefe da Unidade de Transparência do Ministério dos Hidrocarbonetos, Edmundo Novillo, informou que foram identificadas irregularidades legais, administrativas e técnicas na compra de três sondas de perfuração para a YPFB.

Ambos, Evo e Lula, estão livres das acusações de corrupção e tramam o retorno ao poder com a ajuda de Cuba, Venezuela, Argentina e Nicarágua. Com o Judiciário controlado pela esquerda, os adversários políticos de Evo Morales são perseguidos e alvo de processos judiciais duvidosos. O ex-presidente da empresa de estradas da Bolívia José Maria Bakovic foi um dos alvos do linchamento moral que o governo do partido MAS, que retornou ao poder recentemente, impõe aos rivais. Bakovic respondia a 76 ações em sete dos nove departamentos bolivianos. Foi preso duas vezes sem provas. Em 2013, doente, aos 74 anos, morreu, após um infarto, numa viagem para uma audiência em La Paz – uma junta médica recomendara repouso.

De quatro governadores de oposição, só restou um no cargo, Rubén Costas, de Santa Cruz. Ele responde a dezenas de processos. O governador de Pando, Leopoldo Fernández, foi detido em 2008, levado a La Paz sem processo legal e está preso há seis anos, sem sentença. Ernesto Suárez, do Beni, outro reduto oposicionista, renunciou em 2012, por pressão de Evo, após ser acusado de irregularidades pelo Ministério da Luta contra a Corrupção. Agora, foi candidato a vice de Samuel Doria Medina e está impedido de sair do país. Mario Cossío, de Tarija, foi suspenso do cargo por acusações de corrupção. Fugiu para o Paraguai, onde ganhou asilo político.

No Brasil, o caso mais conhecido foi o do senador boliviano Roger Pinto Molina. Dilma Rousseff chegou a afastar o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, quando, de forma heroica, o encarregado de negócios da Embaixada do Brasil na
Bolívia, o diplomata Eduardo Saboia, ajudou a levar Pinto Molina para o Brasil. O senador estava preso na embaixada brasileira em La Paz por ser contrário ao regime de Evo Morales; mesmo já sendo detentor do status de asilado político, o senador estava restrito a uma sala de 20 metros quadrados na embaixada, com visitação autorizada de apenas três pessoas (uma de suas filhas, um assistente e seu advogado).

Essas ações só são possíveis porque Evo tinha, e ainda tem, as rédeas do Judiciário. Ele nomeou a maior parte dos juízes e promotores no país. Com a nova Constituição de 2009, o Judiciário perdeu o status de poder autônomo. Hoje, é um órgão sujeito às pressões do Executivo. Os juízes dos tribunais superiores, da Corte Suprema e da Justiça Eleitoral foram substituídos antes da fraude eleitoral comprovada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e da partida de Evo para a Argentina devido à decisão da ala mais forte dos militares, que no entanto foi obrigada a ceder após os resultados das eleições vencidas pelo candidato de Morales, Luis Arce.

O Brasil é o maior parceiro comercial da Bolívia e a corrupção entre os dois países se dá essencialmente via dois projetos. O primeiro é o Gasoduto Bolívia-Brasil, também conhecido como Gasbol, um acordo entre as estatais Petrobras e YPFB. Possui 3.150 km em todo o seu percurso, sendo somente 557 km dentro da Bolívia e 2.593 km em solo brasileiro. O custo total dessa obra foi de US$ 2 bilhões. O segundo é o chamado “corredor ferroviário bioceânico”, que prevê a futura construção de uma ferrovia entre os portos de Santos, no litoral atlântico, e de Ilo, cidade peruana no Pacífico, passando pelo território boliviano.

Carles Ramió, no artigo “Tensores reaccionarios a combatir y tensores progressistas a incentivar para lograr la institucionalización e innovación pública em América Latina”, enfatiza que o clientelismo promove a mediocridade, discrição e assimetrias sociais e deve-se tentar erradicá-lo por todos os meios. Quanto mais clientelismo, menos desenvolvimento econômico e social. A corrupção também reduz o nível de capital humano e a participação do investimento privado.

Uma vez derrotados, Evo e Lula fazem planos e firmam acordos com Nicolás Maduro (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina), Raúl Castro (Cuba) e Daniel Ortega (Nicarágua) para retornarem ao poder mesmo sendo inelegíveis. Contudo, o apoio maior de Lula e Evo é o de grande parte da população. Isso porque boa parte das pessoas não quer acabar com a corrupção, mas participar dela quando surgir a oportunidade. Enquanto isso, recebem dos governos de esquerda benefícios para ficar em casa sem contrapartida, ambos tirando vantagens.

Ao contrário do que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro afirmou, Cuba não é o país ideal para Evo, porque é justamente lá que estão depositadas as fortunas desses líderes de esquerda, boa parte delas transformada em armamentos, fato este investigado e constatado pelo governo argentino, mas não pelo brasileiro.

Além do rombo que Evo causou na YPFB, há denúncias contra o seu governo por envolvimento com o narcotráfico. O advogado boliviano Eduardo León apresentou uma queixa criminal contra dois antigos ministros de Evo, Carlos Romero e Hugo Moldiz, por envolvimento com o tráfico de drogas, particularmente como parte das
investigações que estão a ser realizadas pelo Ministério Público por alegadas irregularidades na Unidade Executiva de Luta Integral contra o Tráfico de Drogas (Uelicn). León sugeriu ao governo que se iniciassem auditorias sobre a gestão do diretor nacional da Força Especial de Luta contra o Tráfico de Drogas (Felcn), coronel Maximiliano Dávila, para além de uma investigação sobre a fortuna dos chefes e oficiais da direção de Dávila, incluindo Felipe Cáceres, que se descobriu ter acumulado bens no valor de 9 milhões de pesos bolivianos. Cáceres, chamado “czar antidroga” porque foi vice-ministro da Defesa Social e Substâncias Controladas durante o governo de Evo Morales, deixou o país e está agora na Nicarágua.

O Brasil não fica tão atrás. O país é a quarta nação mais corrupta do mundo, segundo o índice de corrupção do Fórum Econômico Mundial. Fica atrás apenas do Chade, da Bolívia e da Venezuela, que lideram o ranking. O combate à corrupção passa por crises, desastres naturais, pandemias, conflitos internos e guerras até que o povo decida evoluir.

Cristiano Trindade de Angelis é PhD em Gestão de Projetos e autor de “Gestão por inteligências”.

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