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Com o fim da Guerra Fria, simbolizado pela queda do Muro de Berlim em 1989, muitos foram os prognósticos de que o mundo caminharia para um longo período de paz. Afinal, as décadas de disputas militares e ideológicas entre os blocos capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e socialista, comandado pela ex-União Soviética, eram coisa do passado.

A esperança de um planeta com menos armas e guerras cresceu com o Tratado Estratégico de Redução de Armas (Start, na sigla em inglês), firmado entre soviéticos e americanos. O acordo assinado pelos presidentes Mikhail Gorbachev e George H.W. Bush, em 1991, exigia que cada país reduzisse as ogivas nucleares em pelo menos um quarto, para cerca de 6 mil, e implementasse procedimentos para verificar que cada parte estava cumprindo o acordo.

Após 20 anos do desmantelamento do lado comunista, o tão sonhado mundo sem conflitos bélicos está distante de se tornar realidade. O desarmamento nuclear também não evoluiu como esperado. Pelo contrário, na última década vivemos um período de agravamento da violência militar em todos os continentes e o aumento dos gastos com armamentos.

O último relatório do Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), publicado neste mês, revela que as despesas militares bateram recorde em 2010, chegando a US$ 1,6 trilhão. Esse valor é 50% superior ao registrado em 2001.

Uma pequena parte do dinheiro gasto com fins militares seria suficiente para resolver os problemas mais urgentes de miséria do planeta. Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que 2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável e, a cada ano, 23 milhões morrem de fome, das quais oito milhões são crianças.

A mesma ONU estima que cerca de US$ 150 bilhões anuais são necessários para atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Estabelecidas em 2000, as metas prevêem para 2015 acabar com a fome e reduzir drasticamente a pobreza, as mazelas sociais e a degradação ambiental.

Fazendo as contas, chega-se à obvia conclusão de que os gastos militares mundiais no ano passado seriam suficientes para resolver os problemas de miséria absoluta do mundo durante dez anos.

O maior responsável pelo aumento das despesas militares são os Estados Unidos. Na última década, o país teve um crescimento de 81% com os gastos na área e atingiu US$ 698 bilhões em 2010. A maior potência mundial gastou com a chamada "Guerra ao Terror", após os atentados de 11 de Setembro, mais de 10% do seu Produto Interno Bruto (PIB). O resultado dessas despesas é o aumento do déficit público americano e dificuldades de toda ordem para retomar o crescimento econômico.

Ao anunciar, na semana passada, o início da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, o presidente Barack Obama reconheceu que é o "momento de cuidar dos problemas de casa" e que a guerra no país dos talebans custa US$ 10 bilhões por mês aos cofres dos contribuintes norte-americanos.

Mas não são apenas os EUA e outros países ricos como a França e a Grã-Bretanha que vêm aumentando os dispêndios com o setor militar. De acordo com relatório do Sipri, a América do Sul – região com problemas gritantes em educação, saúde, saneamento básico e moradia, entre outros – registrou um crescimento de 5,8% com gastos militares em 2010.

A elevação das despesas é injustificável, considerando a ausência de ameaças militares reais para a maioria dos Estados latino-americanos. O Brasil, que foi o país que mais gastou na região, negocia a aquisição de aviões de caça.

Está na hora de os países – sejam ricos, pobres ou emergentes – frearem a gastança com armas e guerras. Todo Estado tem o direito e o dever de manter a sua segurança e soberania, mas a prioridade do mundo neste momento deve ser os investimentos em setores que propiciem melhoria na qualidade de vida das pessoas.

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