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Imagem ilustrativa.| Foto: Mario Klassen/Unsplash

Driblar os adversários dentro de campo nunca foi um problema para o futebol brasileiro desde 1894, quando Charles Miller chegou da Inglaterra trazendo o esporte. De lá para cá, o país se tornou a única nação a participar de todas as edições da Copa do Mundo e também o primeiro a conquistar o torneio por cinco vezes, feito que ainda não foi igualado.

Apesar disso, atualmente é possível afirmar com alguma segurança que nove entre dez crianças se orgulham muito mais de vestir camisas de times europeus como Real Madrid, Barcelona, PSG e outros do que dos clubes brasileiros. A principal razão é que as agremiações estrangeiras fazem sucesso justamente por comprarem a peso de ouro os melhores jogadores brasileiros ainda na fase de meninos, visando torná-los estrelas mundiais quando adultos lá no velho continente.

Essa realidade leva a uma reflexão: por que, sendo nascidos e formados no Brasil, estes atletas não ficam jogando nos clubes brasileiros? A resposta passa por uma série de pontos, incluindo o da conjuntura econômica, mas também pela corrupção nas esferas diretivas do futebol nacional, fator que, felizmente, parece começar a ser combatido.

Para evitar que golpistas continuem sangrando as finanças de clubes e federações no futuro, o mínimo que se pode fazer é evitar entregar a chave do cofre destas entidades a quem já praticou golpes no passado

Neste momento no qual o futebol brasileiro começa a atrair a atenção do investidor internacional através do modelo Sociedade Anônima do Futebol (SAF), como ocorreu em clubes como Cruzeiro, Botafogo e Vasco, só para citar alguns, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) parece ter decidido "começar pelo começo". Afinal, para evitar que golpistas continuem sangrando as finanças de clubes e federações no futuro, o mínimo que se pode fazer é evitar entregar a chave do cofre destas entidades a quem já praticou golpes no passado.

Com esse conceito, a CBF pretende instituir uma nova regra para quem tiver o interesse de comandar os destinos de clubes e federações no Brasil. A ideia ainda está em fase de discussão no departamento jurídico da entidade, mas caso seja aprovada estabelecerá a exigência de um teste de integridade.

O instrumento impedirá a posse de candidatos a presidente e vice de clubes e federações eleitos que tenham problemas com a Justiça e cujas condenações já tenham transitado em julgado, ou seja, sem a possibilidade de recurso. A prática, que já é exigida pela Fifa e pela Conmebol, entidades que também tiveram suas marcas envolvidas em grandes escândalos nos últimos anos, é facilitada pelo avanço da tecnologia.

O teste de integridade é um serviço prestado por plataformas de compliance judicial capazes de disponibilizar, a baixos custos, a possibilidade de usar tecnologias emergentes como mineração de dados, inteligência artificial e Big Data para pesquisar em mais de 3.500 fontes, nacionais e internacionais a citação dos nomes de pessoas e empresas em processos, vestígios de corrupção, lavagem de dinheiro, terrorismo, leis ambientais, crédito e mídia negativa entre outras situações suspeitas. O resultado desta varredura é entregue em menos de um minuto por consulta.

Diante de tamanha facilidade, o que surpreende é o fato de esse tipo de teste ainda não estar sendo utilizado, enquanto, por outro lado, não surpreende a ninguém o fato de pessoas envolvidas em corrupção no passado estarem novamente envolvidas em golpes que, infelizmente, continuam surgindo todos os dias na imprensa.

Ao adotar o teste de integridade, a CBF marca um verdadeiro gol em termos de compliance e segurança para o futebol brasileiro. Além disso, considerando o potencial do futebol para influenciar a vida dos brasileiros, ela abre a possibilidade de que a medida se espalhe para outros setores da nossa sociedade.

Afinal, quantos gols valeriam a exigência de testes de integridade para políticos, por exemplo?

Alexandre Pegoraro é CEO da plataforma de compliance Kronoos.

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