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Nos estudos de teoria econômica há um capítulo chamado "falhas de mercado", e uma categoria especial dessas falhas é conhecida como "externalidades", que podem ser positivas ou negativas. Uma "externalidade" é o impacto da ação de uma pessoa sobre o bem-estar de outras pessoas que não participam da ação.

Quando ocorre alguma externalidade, os interesses da sociedade em relação aos resultados do mercado vão além do bem-estar dos compradores e vendedores. Um exemplo: vamos supor que você tenha um vizinho que é surdo. Ele vai a um pet shop e compra um lindo cãozinho. Após a transação, comprador e vendedor saem ambos satisfeitos; e essa é a função do mercado.

Mas o cãozinho tem um latido alto, irritante e constante. Ele passa dias e noites infernizando sua vida e a de outros vizinhos, perturbando a paz de todos (menos do dono, que é surdo). Trata-se de uma "externalidade negativa". Outro exemplo: em uma cidade pequena há uma fábrica, que lança poluição no ar e prejudica todos em seu entorno. Algumas fábricas lançam no ar uma substância química chamada dioxina, que aumenta o risco de câncer e defeitos de nascença.

Imagine que a pequena cidade dependa da empresa, tanto para ofertar algum produto como para gerar empregos, e que não exista tecnologia capaz de suprimir a poluição emitida pela fábrica. A sociedade se vê diante de um dilema dramático: ou fecha a fábrica e perde os produtos e os empregos, ou aceita os riscos para a saúde da população e mantém a empresa funcionando.

Isso acontece rotineiramente no mundo, e um caso emblemático é a China, país em que o parque industrial está entre os mais poluidores do mundo. É uma situação difícil de resolver, seja por não haver solução tecnológica para o mal, seja porque nenhum país consegue substituir um parque industrial poluidor por um parque moderno em curto espaço de tempo.

Nisso reside um dos maiores desafios da sustentabilidade: o desafio de como as gerações do presente podem retirar da natureza os recursos de que necessitam, sem poluir, sem depredar e sem danificar, de modo a não comprometer as gerações futuras. Sustentabilidade é isso; mas essa palavra vem sendo usada como panaceia para tudo e fora de contexto. É mais uma expressão que será desmoralizada pelo mau e indevido uso.

A Rio+20 era para ser uma enorme conferência sobre "sustentabilidade". Aí vem a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, e faz um discurso inflamado sobre o direito de as mulheres decidirem sobre seu corpo. Um grupo fez barulho defendendo "empregos decentes". Outro desfilou o direito ao aborto de fetos doentes. Outro grupo ocupou um espaço para defender os gays e condenar a homofobia.

Todas essas causas podem ser nobres e defensáveis, mas o que isso tem a ver com sustentabilidade? Nada. Entretanto, certos temas importantes para o meio ambiente nem foram abordados. Alguém ouviu falar sobre os impactos para o meio ambiente do programa do pré-sal? Ou sobre o destino do lixo tóxico ou do lixo pneumático?

Diante de externalidades negativas, a saída não está em proibir as atividades, mas em desenvolver a ciência, a pesquisa e a tecnologia. O planeta ganhará 2,4 bilhões de pessoas nos próximos 38 anos e chegará a 9,4 bilhões de habitantes. Alimentar tanta gente exige transformar o mundo em uma grande indústria, com ou sem danos ambientais. Temos de lutar para que seja sem danos à natureza.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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