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Desde 1971, quando surgiu The Creeper, o primeiro vírus, nossos computadores vivem sob constante ameaça. No início era apenas uma brincadeira. Recebíamos mensagens, poemas, conteúdos inocentes. Depois, tudo foi ficando mais sério. Eles replicavam ou apagavam arquivos e até formatavam a máquina.

O perigo realmente aumentou em 1999 quando os códigos maliciosos ganharam a identidade comercial que carregam até hoje, com o Melissa. Em 2005 surgiu o MyTob, o primeiro vírus com a capacidade de executar softwares sem que o usuário precisasse realizar alguma ação específica.

E aí começou o desespero total. Acredita-se que hoje existam mais de 300 milhões de vírus diferentes. Claro que surgiram também os chamados antivírus, com a promessa de nos salvarem destas pragas que ainda nos afligem.

As notícias falsas têm maior poder ofensivo, porque desinformam, difamam, desorientam, assassinam toda a nossa capacidade de confiar, de acreditar

Vejo uma certa semelhança desse processo com as novas estrelas da angústia cibernética, as fake news. A primeira de que se tem registro remonta ao mundo analógico dos idos de 1835. “Gigantescos morcegos passavam os dias coletando frutas e conversando animadamente; criaturas parecidas com cabras de pele azul em um templo feito de safira polida”, publicou o New York Sun, desdobrando em uma série de “reportagens” a visão do eminente astrônomo britânico John Herschel, que naqueles idos apontava um poderoso telescópio para a Lua, a partir de um observatório na África do Sul.

Percebo que os vírus de computador e as fake news tiveram origem em brincadeiras despretensiosas, e ganharam dimensões imprevistas com danos gigantescos para a sociedade. Mas acho que as notícias falsas têm maior poder ofensivo, porque desinformam, difamam, desorientam, assassinam toda a nossa capacidade de confiar, de acreditar. E as consequências são desastrosas.

Toda a nossa evolução foi baseada no repasse de informações que acreditávamos estarem corretas. Agora recebemos e compartilhamos informações que mais tarde descobrimos serem falsas. O que ocorreu nas últimas eleições, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, foi um verdadeiro escárnio.

Leia também: A importância de uma imprensa plural (editorial de 23 de outubro de 2018)

Leia também: Fake news: as mentiras que viram notícias (artigo de Danillo Saes, publicado em 29 de setembro de 2018)

Até mesmo alguns veículos de imprensa conhecidos já repassaram fake news aos seus leitores. Outros criaram áreas de checagem de fatos na tentativa de desmontar o fluxo de notícias falsas que, entre outros danos, leva grandes massas a adotar comportamentos desejados por pequenos e poderosos grupos com interesses específicos.

Mas é preciso fazer mais do que isso para enfrentar a nova praga. Assim como os antivírus foram desenvolvidos para identificar assinaturas de vírus, deve-se pensar em softwares que identifiquem assinaturas de fake news. Cada vírus tem um DNA próprio, que é analisado e dá origem a uma “vacina”, metodologia que pode ser aplicada às informações falsas.

Os programas anti fake news não serão 100% eficazes, da mesma forma que os antivírus não são. Mas poderão identificar pelo menos 95% dos falsos textos, fotos e vídeos hoje espalhados pelas rede sociais, alertando rapidamente os usuários e reduzindo os danos crescentes que eles causam.

Wanderson Castilho, bacharel em física, é membro consultor da Comissão de Direito Eletrônico e Crimes de Alta Tecnologia da OAB-SP, perito em Segurança Digital e presidente da E-Net Sec.
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