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A família desempenha um papel crucial na promoção cidadã. Cumpre o papel de suporte e promoção de fermento sociocultural. Por isso é imprescindível, para o desenvolvimento social, que se apliquem políticas públicas eficazes e eficientes dirigidas a atender as prementes e angustiosas necessidades da família e suas carências.

Toda a vida humana realiza-se em torno de relações em grupos de pessoas. A primeira experiência social se dá no aconchego familiar e é complementada pela escola, pelo grupo de amigos etc. Os membros de uma sociedade, independentemente de raça ou cultura, desenvolvem sua personalidade dentro de um grupo de pessoas.

A família cumpre um papel-chave na socialização básica das crianças e sua influência é decisiva na formação da personalidade. Aprende-se os elementos mais básicos do relacionamento humano, a alfabetização afetiva e os elementos mais próprios para inserção em qualquer outro grupo. No âmbito familiar começa a interiorização dos hábitos de convivência que serão necessários para a participação na vida social.

A produção e desenvolvimento dos comportamentos anti-sociais aparecem em primeiro lugar no âmbito da família, depois na escola e finalmente entre outros grupos. Patterson, DeBaryshe e Ramsey, traçam uma seqüência desenvolvimental de crianças que se entregam à delinqüência crônica, composta basicamente de três passos: a parentagem inefetiva, que resulta em transtornos do comportamento; o fracasso acadêmico e a rejeição de pares, fruto dos transtornos acima; e resultantes do item anterior, humor deprimido e o envolvimento com pares desviantes.

Na análise dos fatores que intervém na baixa qualidade do nosso ensino, um pesquisador da FGV-RJ, afirma que o "motivo que explica a baixa qualidade do ensino público é a baixíssima qualidade, na média, vale insistir, do ambiente doméstico do qual as crianças que freqüentam a escola pública originam-se. Todos os resultados recentes apontam o ambiente doméstico como um dos determinantes do desempenho dos alunos."

Visando saber quais fatores são de maior influência na educação e aproveitamento de crianças e adolescentes, esclarece Kolf: "Muitos estudos confirmaram o que descobriu por acaso nos anos sessenta James Coleman, sociólogo da Universidade de Chicago. Desejoso de saber por que os alunos de certas turmas ou de certas escolas progridem mais que outros em distintas situações, calculou a influência relativa de vários fatores: desde o dinheiro gasto ou o número de alunos por classe, até a qualidade profissional do mestre (anos de experiência, nível de formação etc.). Descobriu que, efetivamente, alguns desses fatores pesam mais que outros; mas muito mais importante ainda é a família. Hoje se sabe – com dados empíricos – que obtêm melhores notas os jovens que seguem um estilo de vida típico de famílias nas que os pais se esforçam por ensinar uma série de virtudes humanas, mesmo quando o motivo não seja explicitamente acadêmico. Por exemplo, aprendem melhor os que vivem conforme um horário mais ou menos fixo, com horários estabelecidos para se levantar, comer, estudar, brincar ou dormir. Também se destacam as crianças cujos pais estão conscientes do que fazem seus filhos: conhecem pessoalmente seus amigos, costumam ver os programas de televisão com eles etc."

Nas avaliações de Souza, à frente do Centro de Pesquisas sobre Desigualdades (Cepedes), da Universidade de Juiz de Fora (MG), questionado sobre o IDH brasileiro ter caído nas últimas avaliações de 2006, avalia da seguinte maneira "o IDH não mede e sequer atenta para fatores que condicionam a desigualdade em todas as suas dimensões. Esses fatores começam na socialização familiar. Uma criança de quatro ou cinco anos, quando chega à escola, dependendo da estrutura familiar ou da ausência dela – por exemplo, presença ou ausência do pai, estímulo ou não à leitura, existência ou não de bases para a construção da auto-estima –, já se encaminha para ser perdedora ou vencedora."

Portanto, agir com descuido nos aspectos da socialização básica familiar seria um erro, pois essa formação pode condicionar tudo o que se faça a seguir. A base da educação moral começa em cada lar e sabe-se que a educação das virtudes pessoais e sociais devem ser estimulada por meio de programas de capacitação, sensibilização e conscientização. Essa tarefa requer a atuação do Estado, escolas e famílias em perfeita sintonia em um projeto de educação moral para que se consiga uma construção consistente da cidadania.

Paulo Sertek é professor do curso de pós-graduação em Desenvolvimento Pessoal e Familiar do Instituto de Ensino e Fomento (www.ief.org.br) e autor do livro "Responsabilidade Social e Competência Inter-pessoal" (Ibpex, 2006). www.sertekpaulo.blogspot.com

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