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Loja da rede Muffato, uma das maiores cadeias de supermercados do país
Imagem ilustrativa.| Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo

A ciência apanhou muito neste último ano; por isso, vou mudar o foco do texto para uma pergunta que exige uma resposta lógica. O principal ponto desse artigo não são os surgimentos de variantes, máscaras, vacinação e higienização. Temos conhecimento para discutir tudo isso, mas o que vem ao caso agora é outro: Se devemos evitar estar em lugares com muitas pessoas, por que somos forçados a estar em lugares com muitas pessoas?

Se você trabalha de segunda a sexta, precisa fazer compras para a manutenção da sua casa aos fins de semana, o ideal é que você não vá a um supermercado lotado, correto? Por mais que você use a praticidade dos aplicativos, eles ainda não oferecem a mesma possibilidade de escolha e variedade que ir diretamente ao supermercado pode proporcionar. São muito práticos, mas ainda existem algumas limitações. E se eu perceber que preciso de algo naquele momento? E se esse momento for um sábado ou um domingo?

Após um ano de pandemia, temos conhecimento suficiente para saber o que é eficiente e o que não é. Por exemplo, não há o que discutir sobre o uso de máscaras; elas realmente representam uma forma de proteção evitando que, através da fala, você (caso esteja contaminado) disperse perdigotos e, caso converse com alguém contaminado (e você não saiba), ela também lhe protege dos perdigotos contendo o vírus. Se as duas pessoas em questão estiverem usando máscaras, a possibilidade de contaminação diminui, e muito. Além das máscaras, todo o processo de lavar as mãos e usar o álcool em gel 70% aumenta sua proteção; se todos fazem isso, há uma diminuição do surgimento de novos casos.

Onde está o problema, se o que foi apresentado aqui é tão simples? O aumento do número de pessoas em um determinado local aumenta também a possibilidade de que algumas poucas pessoas errem em algum momento; logo, o problema não são os meios de proteção que conhecemos, mas situações que forçam o aumento do número de pessoas em um mesmo lugar.

Sendo assim, fechar supermercados e feiras livres aos fins de semana é algo positivo ou negativo? Se eu, por exemplo, tenho a possibilidade de ir realizar minhas compras aos sábados e domingos, posso escolher, no momento em que chego ao estabelecimento, se eu entro no lugar ou não. Se eu perceber que há muitas pessoas, tenho a opção de voltar no dia seguinte, em um outro horário. Quanto mais dias, mais possibilidades de não encarar uma aglomeração. Se tenho menos dias como opção de compra, a possibilidade de enfrentar uma aglomeração aumenta. Em condições normais, eu poderia escolher um dia e um horário entre os sete dias da semana. Se tenho menos opções e ainda assim preciso ir, com as possibilidades reduzidas em dois dias, aumenta a chance de me aglomerar com outros. Isso não vai acontecer apenas com uma pessoa, mas com várias que passarão pelo mesmo problema.

Fechar supermercados, feiras livres e pequenos mercadinhos de bairro aos fins de semana força as pessoas a realizarem suas compras em apenas cinco dias, aumentando a possibilidade de encontros e aglomerações. Alguém poderá argumentar que, em caso de lotação, as pessoas ficarão em fila, esperando fora do mercado. Mas por que manter pessoas do lado de fora se elas poderiam entrar e sair sem provocar aglomerações e filas caso houvesse maior disponibilidade de dias e horários de funcionamento?

Uma sugestão seria, então, aumentar o horário de atendimento para dispersar os clientes. Qualquer forma de diminuição do atendimento reduz também as possibilidades de se escolher horários mais tranquilos e causa aquela corrida às compras, “pois os mercados irão fechar”. Qual a lógica por trás de diminuir os dias de compras em supermercados e feiras livres? O fim de toda essa situação passa por aumentar a vacinação, manter o uso de máscara, higienizar as mãos com álcool gel 70% e promover medidas que evitem aglomeração. Realizar ações que aumentem as possibilidades de aglomeração é adicionar mais um problema a essa situação desgastante e dolorosa que vivemos.

O abre e fecha do comércio e de serviços não essenciais pode também ser fator a contribuir com a aglomeração das pessoas. Sobe o número de casos, fecha-se o comércio; este tem prejuízos financeiros enormes, fechando muitas empresas e prejudicando o empreendedor e o consumidor. Quando tudo abre novamente, saem todos correndo para aproveitar.

No começo da pandemia as pessoas compravam e faziam estoques de mantimentos e diversos produtos, deixando em falta muitos itens e prejudicando aquele que ia ao supermercado e não encontrava leite e papel higiênico, por exemplo. Por que isso acontecia? Porque as pessoas estavam convictas de que precisavam ser rápidas, pois faltaria tudo. O que favorece a aglomeração – que é o real motivo da grande maioria dos casos de contaminação – é a sensação da população de que é preciso correr para não ficar sem mantimentos, e muitas vezes essa confusão faz com que as pessoas cometam o erro de se expor ao vírus.

Os governantes já têm conhecimento e experiência suficiente para evitar criar mais problemas, desemprego e o fechamento de pequenos estabelecimentos. Do outro lado, as pessoas precisam contribuir comportando-se sem os encontros desnecessários.

Benisio Ferreira da Silva Filho é biomédico, mestre em Ciências da Saúde, doutor em Biotecnologia e em Biologia Celular e Molecular, e coordenador do curso de Biomedicina da Uninter. Nathaly Tiare Jimenez da Silva Dziadek é biomédica, especialista habilitada em Análises Clínicas e em Controle de Qualidade, e tutora do curso de Biomedicina da Uninter. 

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