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Algo vai mal quando um país que precisa enfrentar seus problemas chama de "ano da Copa" um ano de eleições presidenciais. É o que está acontecendo com o Brasil. Na imaginação nacional, 2014 é o ano da Copa no Brasil, não do Brasil com eleições. Isso se explica por nossa paixão pelo futebol, mas também pela descrença com a política, sobretudo porque não há candidatos propondo programas que empolguem a população. Todos são tão iguais no comportamento e na falta de propostas que sobra apenas o grito de viva a Copa em 2014.

Entretanto, raras vezes tivemos necessidade de candidatos que ofereçam ideias para impedir o rumo de problemas que nos ameaçam. Parece que estamos satisfeitos com os rumos do Brasil. Estamos caminhando para ser um país cada vez mais violento, em um nível de gravidade imprevisível. As calçadas de nossas cidades já estão proibidas pelo crime; as ruas, conturbadas pelas guerrilhas cibernéticas e atravancadas pelo excesso de automóveis e carência de transporte público.

Caminhamos para ser um país onde parte da juventude e mesmo dos adultos cai na dependência de drogas devastadoras. Nossa economia cresce se degradando, pela destruição ecológica, pela concentração de renda e pelo primarismo dos nossos produtos.

Não há propostas para enfrentar a guerrilha urbana feita por desesperados, que matam dezenas de milhares de pessoas todos os anos e impedem as pessoas de usar as ruas das cidades onde vivem. Nem há propostas para enfrentar a crescente guerrilha cibernética que organiza os desiludidos, movidos pelas redes sociais, para promover atos de bloqueio de trânsito, queima de veículos, quebra de vidros de bancos e lojas.

Quais são as propostas para transformar a viciada economia brasileira, de 500 anos, de exportadora de bens primários, inclusive alguns industriais mecânicos, em um setor produtor de bens de alta tecnologia? Elas não existem. Não há preocupação com o desenvolvimento sustentável e distribuído.

Nenhum candidato disse como e nem em quanto tempo fará o povo brasileiro continuar com o Bolsa Família e em quanto tempo não necessitará mais dele. Não se defende a necessidade de um programa para eliminar essa necessidade. Nenhum deles propõe a emancipação: temem perder votos entre os que se acostumaram à bolsa como solução máxima de sua ascensão social possível.

Há 40 anos o Brasil estava na frente da China em matéria de pesquisa espacial. Agora, a China enviou uma nave que pousou na Lua; a Índia vai até Marte; o Japão prepara uma central de energia solar no espaço; o Irã, as duas Coreias e o Paquistão estão na nossa frente e os candidatos não usam 2014 para dizer como vamos recuperar o tempo perdido em ciência e tecnologia.

Na educação, estamos entre os piores do mundo, em todas as medições, e ficando mais para trás por causa do crescimento das necessidades educacionais e pelos avanços maiores de outros países. Enquanto isso, as propostas dos presidenciáveis sobre educação se limitam a generalidades para ganhar os votos dos professores.

Nesse quadro de "deseleição", o ano de 2014 será o ano da Copa. No 1.º de janeiro de 2015 poderemos acordar com a sensação de que tudo continuará igual, no mesmo rumo previsível de um país que cresce se desfazendo. Por isso, só nos resta desejar um Feliz 2015 para o Brasil e um Feliz 2014 para cada um dos brasileiros.

Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF.

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