• Carregando...

Em um momento de confrontação das propostas para a condução dos destinos do Paraná, esboçadas neste segundo turno das eleições para o governo por dois grupos políticos detentores de vasta experiência em administração pública, parece conveniente resumir os fluxos de oportunidades relevantes oferecidas ao aprimoramento da base econômica estadual.

É pertinente lembrar que, ao longo das últimas quatro décadas, a economia paranaense registrou profundas alterações quantitativas e qualitativas em suas bases de operação, particularmente com a construção da infra-estrutura, nos anos 1960, a modernização agrícola e agroindustrial e a implantação da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e da refinaria de petróleo, no decênio dos 1970, e o ciclo diversificado de investimentos do segundo qüinqüênio da década de 1990.

De fato, desde o começo dos anos 1990, a economia paranaense vem revelando enorme capacidade de sincronização com algumas modificações estruturais e espaciais verificadas no país. Pela ótica estrutural, destacam-se o aprofundamento da abertura comercial, o rearranjo técnico-produtivo-gerencial das empresas, sobretudo privadas, a formação e a tentativa de consolidação do Mercosul, e a estabilidade monetária, que ampliou o horizonte temporal para o exercício de tomada de decisões dos agentes sociais.

Do ângulo geográfico, sobressai a rearrumação inter-regional da corrente de novos investimentos produtivos no território brasileiro, particularmente o deslocamento do crescimento do agronegócio do Centro-Sul no sentido das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, a implantação do pólo automotivo do Nordeste, viabilizada por um coquetel de renúncias fiscais federais e estaduais, e o retorno dos movimentos de desconcentração da indústria da Região Sudeste em direção às cidades de portes médio e grande do Centro-Sul do país, próximas de São Paulo e do Mercosul, dotadas de infra-estrutura adequada e com grande potencial nas áreas de ciência e tecnologia e qualificação de mão-de-obra.

Nessa perspectiva, um conjunto de reflexões empreendidas acerca da trajetória recente da economia estadual propicia configurar alguns indicativos de potencialidades voltados à sustentação e à diversificação da estrutura produtiva regional, capazes de contribuir para a diminuição de sua crônica subordinação a fatores exógenos ou episódicos (como preços internacionais e clima), determinada por condições de funcionamento associadas a determinados ciclos econômicos.

Uma observação cuidadosa do ambiente econômico, institucional e político permitiria constatar a adequação em perseguir o fortalecimento da produção familiar rural, por meio do estímulo à profissionalização dos produtores, à diversificação de atividades e o conseqüente fortalecimento de alternativas de renda nos estabelecimentos primários. Na mesma linha, seria interessante buscar a acentuação da verticalização da cadeia agrícola e agroindustrial na direção da maior agregação de valor à produção primária e da diminuição da grande dependência da obtenção de reduzidas margens propiciadas pela simples comercialização de commodities, aproveitando a enorme estrutura cooperativista existente no estado.

Há também que se buscar a complementaridade interindustrial dos ramos metalmecânico e eletroeletrônico, especialmente através do incentivo à maior participação de empresas regionais nesse segmento. Outra frente de oportunidades corresponderia à expansão e modernização do complexo madeireiro e papeleiro, aproveitando a razoável capacidade empresarial disponível e as vantagens naturais desfrutadas pelo estado em termos de disponibilidade de matéria-prima.

Outro vetor expansivo equivaleria à fronteira internacional, incluindo a busca de restauração das bases de funcionamento do Mercosul, representando importante eixo de expansão de negócios e de investimentos para as empresas regionais. A par disso, seria crucial ainda focar ações para o melhor aproveitamento das vocações e o desenvolvimento das aptidões regionais, nas suas diferentes escalas, envolvendo novos atores locais ativos, inclusive na perspectiva de reconstrução de espaços, como os consórcios de municípios.

A transformação dessas potencialidades em oportunidades, e a multiplicação das vantagens competitivas desfrutadas pelo estado, requereria a ampliação da retaguarda infra-estrutural, mediante a otimização do tripé transportes, energia e telecomunicações, a expansão da base estadual em ciência e tecnologia (C&T) e a intensificação de um estilo de planejamento voltado à correção das imperfeições do tecido econômico e social, ocasionadas pela predominância do livre jogo das forças de mercado, e à ampliação da presença e influência política do Paraná na esfera federal.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UniFAE – Centro Universitário – FAE Business School.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]