• Carregando...

Em meio ao desanimador espetáculo de persistente instabilidade, apresentado pela economia mundial e protagonizado pela morosa recuperação dos Estados Unidos, estagnação do Japão, lenta saída da recessão na Europa e desaceleração da Ásia, especialmente da China, a salvação da lavoura no Brasil vem sendo operada por meio do dinamismo do comércio exterior de produtos da cadeia produtiva do agronegócio. As exportações agrícolas e agroindustriais do país atingiram cifras recordes de US$ 86,4 bilhões entre janeiro e outubro de 2013, representando 43,1% do total das vendas externas, contra importações de US$ 14,2 bilhões, o que resultou em saldo positivo de US$ 72,2 bilhões contra déficit de US$ 1,9 bilhão para o conjunto da balança de comércio da nação.

Esse desempenho reflete, fundamentalmente, a maximização das oportunidades abertas ao setor pelo forte incremento do comércio mundial, verificado desde meados da década passada, puxado pela demanda para consumo final, predominantemente das nações emergentes, com destaque para a influência decisiva exercida pela eclosão do fenômeno de aceleração do êxodo rural, ou de invasão do campo pelas cidades, acontecido na China, que se tornou o maior importador global de milho, açúcar, algodão e soja.

O encaixe pleno do agronegócio brasileiro naquele ambiente virtuoso, que serviu para multiplicar a demanda e as cotações das commodities primárias, pincipalmente alimentos, decorreu da maturação de relevantes mudanças, que abarcaram o emprego de contemporâneos métodos de produção e de gestão de negócios e de práticas comerciais de estilo empresarial, pelos diferentes elementos da cadeia de valor.

Dentre os avanços aplicados sobressai a introdução de modernas técnicas e novas variedades de cultivo e o aumento do uso de bens de produção (insumos e ativo fixo) nos estabelecimentos agropecuários, e a exploração de novas frentes geográficas de expansão de áreas aptas pelos produtores, que redundaram em expressiva melhoria dos níveis de eficiência (sobretudo no interior das unidades rurais) quase duas vezes superior ao apurado nos EUA, nos últimos quatro decênios.

Os aprimoramentos observados permitiram ao Brasil ser contemplado em 2013 com a maior safra de grãos da história, estimada em 187 milhões de toneladas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume é 15,5% maior que a colheita do ano agrícola de 2011/2012, com expansão de 8% da área plantada, o que equivale a ganhos de produtividade de 6,9%.

Porém, a recuperação consistente da renda do agronegócio brasileiro vem sendo comprometida pela precariedade ou insuficiência em logística, notadamente da infraestrutura de armazenagem e de transportes, devido aos elevados custos do modal rodoviário – superiores em 200% e 50% às opções hidroviária e ferroviária, respectivamente, e responsável pelo escoamento de aproximadamente 70% da produção – e ao estrangulamento portuário, derivado da excessiva burocracia, da insuficiência de investimentos públicos e das barreiras regulatórias erguidas às inversões privadas.

Cálculos do mercado revelam que as aplicações em logística no Brasil representaram 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos dez anos, contra 7,5% na China, por exemplo. Ademais, as despesas logísticas consomem entre 30% e 40% da renda do agro no Brasil contra 10% a 15% nos EUA e Argentina. Não por acaso, o país figura no fim de uma lista de 145 nações em competitividade dos transportes.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, é diretor-presidente do Ipardes e professor da FAE.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]