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| Foto: Marcos Santos/USP Imagens

É inegável que o uso de drogas e álcool seja preocupação dos familiares de crianças e adolescentes. Em palestras voltadas para pais e mães, percebi que as principais dúvidas chegam à mesma questão: como evitar que os filhos usem drogas. Não há cartilha sobre isso, mas é possível responder à pergunta por métodos semelhantes aos usados na reabilitação de pacientes. O que funciona na maioria dos casos é o que se chama de “função paterna”. Essa constatação tem como base a minha experiência de 30 anos reabilitando viciados, compulsivos e dependentes químicos.

A função paterna é a presença do limite que organiza a vida das pessoas. Nas famílias com adolescentes, o limite que o “não” traz para a pessoa é capaz de separar o adolescente sadio daquele que começa a apresentar problemas com o uso de drogas e álcool. A forma como o adolescente lida com o “não” e como os pais o ajudam nessa vivência é o maior divisor de águas nas questões sobre drogas. É fundamental que as regras e leis sobre álcool e drogas lícitas, sobre o limite de idade para seu uso, sejam respeitadas e apoiadas pelos pais. Erra o pai que acredita ser possível “treinar” o filho no álcool bebendo com ele antes da idade permitida por lei. Por outro lado, dizer “não” para o filho enfraquece o desejo dos pais em serem “amigos” dos filhos.

Erra o pai que acredita ser possível “treinar” o filho no álcool bebendo com ele antes da idade permitida por lei

A prevenção ao vício começa em casa, quando os pais mostram que a vida pode ser satisfatória sem o uso de drogas e álcool. Para tanto, deve-se mudar os valores que buscam a alegria e prazer diário, apartando-se daqueles valores que perseguem a todo custo a sensação de uma vida eufórica e de aventuras, substituído por uma vida satisfatória e feliz. Logo, pode-se entender que a função paterna é a postura familiar que toma as providências cabíveis para que os filhos compreendam que a vida é melhor sem o uso e abuso de álcool e drogas. E qualquer pessoa pode assumir o papel da função paterna – o pai, a mãe, um irmão, outro parente ou um professor.

Em determinado momento, pacientes e filhos podem simplesmente “ignorar” os limites propostos pela função paterna quando exercida nas questões sobre drogas e álcool. E a pessoa ainda poderá se revoltar contra a postura familiar adotada em relação aos problemas, bem como buscar motivos para minar o processo. Em verdade, ela se volta contra os limites impostos que demandam novo comportamento do paciente. É primordial, para quem exerce a função paterna, permanecer firme e não recuar. Manter a postura não significa extrapolar barreiras e partir para a briga porque se perde, além da razão, a própria autoridade diante do filho.

O exercício da função paterna, ou seja, do limite organizador para a vida dos filhos ou do paciente, é um processo que somente será sustentável se for realizado com um ingrediente essencial aos limites propostos: o amor pela outra pessoa. É necessário que a pessoa saiba e perceba que tudo é feito por amor a ela. De modo contrário, o paciente ou o filho poderá pensar que as limitações dispostas são meras demonstrações de poder e autoridade para subjugar a outra pessoa.

A verdade é que uma pessoa descarta os prazeres que a droga traz somente quando acreditar que todas as áreas de sua vida serão melhores sem o uso dela. E que a felicidade tão buscada só existirá, de fato, quando se tiver consideração pelas pessoas amadas mesmo ante as escolhas individuais. Trata-se também de compreensão do efeito contrário que as drogas trazem para a vida de uma pessoa: o próprio isolamento social e familiar.

Cirilo Tissot é psiquiatra especialista em dependência química e diretor da Clínica Greenwood.
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