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O Brasil colheu benefício indireto da crise deflagrada pela debacle do sistema financeiro norte-americano, com a debandada de investidores estrangeiros da Bolsa e dos títulos do tesouro, mais remessa plural de lucros, provocando alta da cotação do dólar em proveito das exportações e redução da farra do turismo para fora do país.

Já em 1929, no colapso da bolsa de valores de Nova Iorque e da depressão econômica que se seguiu, nosso país levou vantagem porque ajudou a vitória da Revolução de 30, que decretou a moratória da dívida externa, o controle de câmbio pelo Banco do Brasil, a normalização das finanças públicas, o Código de Minas e múltiplas medidas que transformaram o país agrícola da monocultura do café em moderna nação industrial.

Em setembro de 2008, o real estava artificialmente cotado a R$ 1,55 por causa principalmente dos altos juros Selic, insuflando a arbitragem pelos especuladores internacionais, em nosso cassino às avessas em que só o jogador ganha, usufruindo até isenção tributária por ser investidor alienígena.

A indústria nacional sufocava-se com água até o pescoço, muitas exportando com prejuízo para cumprir contratos, outras (ramos de brinquedos, têxtil e calçados) fechando ou transferindo fábricas para a China; componentes passaram a ser comprados no exterior onde eram mais baratos; as importações altearam-se significativamente de US$ 48,3 bilhões em 2003 para US$ 173,2 bilhões em 2008.

Caminhávamos para repetir o governo Fernando Henrique Cardoso em que a balança comercial apresentou déficit contínuo de 1995 a 2000, e somente nos dois últimos anos, como reflexo da queda do real em janeiro/99, tornou-se timidamente superavitária: US$ 2,65 bi em 2001 e US$ 13,3 bilhões em 2002.

A eleição de Lula em 2002 agitou o mercado, com o temor de atitudes socializantes e de mudanças radicais na economia. O dólar valorizou-se e as exportações explodiram para quase US$ 200 bilhões em 2008, somando ano a ano excelentes saldos comerciais: US$ 44,7 milhões em 2005, US$ 46 bilhões em 2006 e 40 bilhões em 2007.

O Brasil tem a sorte de contar com grandes bancos oficiais: BNDES (TJLP de 6,25%), Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal operando à farta e com juros mais baixos. O Banco Central está demonstrando que tem armas para intervir no câmbio, vendendo e comprando moeda, e deve continuar a fazê-lo para que a cotação do dólar flutue na faixa de R$ 2,30 a 2,50 a fim de não prejudicar as exportações no difícil ano de 2009.

Agora, com inflação em baixa, crescimento minguado no 4º trimestre de 2008 e provável recessão no 1º trimestre de 2009, o Copom do Banco Central deveria baixar a taxa Selic em 4 pontos porcentuais, como preconiza Rodrigo Rocha Loures, destacado presidente da Fiep do Paraná.

Os Estados Unidos estão com juros básicos de zero a 0,25%; o Japão com 0,3%; Inglaterra, 2%; União Européia, 2,5% e Brasil, 13,75%, na contramão do universo, com a maior taxa de juro real. Em 10 de dezembro de 2008, o Copom manteve a taxa em 13,75%. O que fará no próximo dia 21?

Léo de Almeida Neves é membro da Academia Paranaense de Letras, ex-deputado federal e ex-diretor do Banco do Brasil.

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