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Geração sem rumo? A resposta está na fé e nos vínculos reais

A Geração Z não está perdida, mas carece de direção, fé e comunidade real. Precisa de mentores que mostrem como vencer na vida com propósito. (Foto: Cottonbro Studio/Pexels)

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Sempre adorei vencer. Quando criança, tudo — desde jogos de tabuleiro até a liga infantil — era uma competição intensa, e aprender a perder com elegância era difícil. À medida que fui crescendo e adquirindo uma melhor compreensão do que são as coisas mais importantes da vida, vencer passou a ter um significado mais profundo, mas ainda importante.

Quero ter uma carreira gratificante que ajude os outros, liderar uma família cristã amorosa e, quando chegar a hora, ouvir as palavras "Muito bem" e entrar na alegria do meu Senhor e Salvador (Mateus 25, 23). Fui incrivelmente abençoado por crescer em um lar onde o que realmente significa vencer na vida me foi ensinado desde muito jovem. Muitos dos meus colegas não tiveram a mesma sorte.

Uma coisa que eu gostaria que os mais velhos, especialmente aqueles em posições de mentoria de jovens, soubessem sobre a minha geração é que, em sua maioria, não somos preguiçosos nem intencionalmente sem rumo.

Precisamos de direção. Precisamos saber o que significa vencer na vida e ser apoiados por comunidades que nos deem uma chance significativa de fazê-lo

Isso requer compreender os desafios únicos que enfrentamos e responder com soluções inovadoras.

Os jovens e o colapso de três pilares

Os jovens de hoje enfrentam o colapso em três áreas que as gerações mais velhas frequentemente consideravam certas: tradições metafísicas compartilhadas, amizades reais e a vida familiar como um bem normativo.

Embora a Geração Z seja responsável por suas escolhas, muitas das ferramentas e indicadores que guiaram as gerações anteriores estão ausentes. Se mentores mais velhos quiserem ajudar, precisam entender como o mundo mudou e por que os conselhos tradicionais muitas vezes falham.

Em busca de Deus no mundo moderno

Em última análise, os problemas da Geração Z começam no nível metafísico e se degradam a partir daí. Embora rumores de reavivamento continuem a surgir — e certamente haja muitas pessoas buscando a verdade — os dados mostram que a

Geração Z é a menos segura em sua fé em toda a história registrada. Não é surpreendente que, sem um poder superior definindo a verdade e a moralidade, muitos não saibam o que significa viver uma vida boa.

Isso pode se manifestar de várias formas. Muitos buscam significado por meio de uma obsessão com a política de esquerda ou abraçando a "manosfera". Outros (especialmente os homens) simplesmente optam por sair completamente da sociedade, sentindo-se como fracassos sem chance de mudar as coisas.

Uma cultura cristã saudável aliviaria muitos desses problemas, preenchendo o vazio do tamanho de Deus que tantos tentam ocupar com a política. Também encorajaria homens e mulheres a buscar o casamento e a formação de uma família. E, o mais importante, lembraria às pessoas que lutam em outras áreas da vida que elas são dignas e feitas à imagem de Deus.

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Pastores e mentores cristãos mais velhos precisam se esforçar mais para divulgar essa mensagem, tanto aos jovens de suas congregações quanto àqueles de fora que buscam um propósito.

Muitas vezes, cristãos mais velhos presumem que os Estados Unidos ainda têm uma estrutura moral compartilhada. Embora o Evangelho seja sempre a mensagem central do cristianismo, ao lidar com a Geração Z é importante ampliar ainda mais o alcance.

Em vez de começar com o motivo pelo qual alguém precisa de redenção do pecado, é necessário demonstrar que o pecado é real e corrosivo. Essa tarefa é bem diferente da maior parte da história, quando o objetivo era trazer alguém de outra religião para o cristianismo.

Antes, acreditava-se em um poder superior e em uma lei moral. Agora, em vez de mostrar por que o Deus cristão é o verdadeiro, o primeiro passo é demonstrar que a vida tem um propósito maior e que a lei moral realmente existe.

O manual das décadas de 1980 e 1990 não funcionará com a Geração Z. O cenário cultural atual é fragmentado e mediado pela vida digital. Antes que a igreja alcance os corações, muitas vezes precisa competir com as telas.

Um Admirável Mundo Novo (Online)

Isso nos leva ao próximo motivo pelo qual a Geração Z é tão incerta. As mídias sociais levaram a uma profunda fratura cultural e a um uso excessivo de tempo em comunidades online selecionadas ou em conteúdos alimentados por algoritmos que conhecem os usuários melhor do que eles mesmos.

Um relatório apontou que a Geração Z passa, em média, 10,6 horas por dia online. Sem surpresa, isso tem sido prejudicial para o capital social e causou os maiores índices de isolamento e solidão da história registrada. As mídias sociais não estão unindo as pessoas; estão fornecendo doses curtas de dopamina em isolamento, acompanhadas de solidão prolongada.

Jonathan Haidt, em seu livro sobre o tema, classificou a Geração Z como "A Geração Ansiosa". Embora a ansiedade tenha aumentado significativamente, eu diria que ela é mais um sintoma da incerteza do que sua causa (ainda que operem em ciclos de retroalimentação). Muitos jovens nunca aprendem habilidades sociais básicas e, quando pressionados a usá-las, ficam ansiosos — o que resulta em mais retraimento no conforto entorpecente da solidão digital.

A Geração Z merece alguma culpa por não estar mais disposta a sair de sua zona de conforto, mas, ao mesmo tempo, tanto o mundo real quanto a internet mudaram de formas que tornam a socialização orgânica mais difícil.

Pessoas mais velhas entendem que os jovens passam muito tempo online e, às vezes, são antissociais. O que nem sempre compreendem é que a internet moderna é completamente diferente do que era há apenas uma década.

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Quando entrei no Instagram na adolescência, só conseguia ver as postagens de quem eu seguia. O conteúdo era limitado e, em geral, seguro (ainda que muitas vezes bobo). Não havia anúncios nem algoritmos me prendendo com rolagem infinita.

Hoje, as redes sociais são mais viciantes e perigosas. Um relatório da Common Sense (2023) constatou que a idade média de exposição à pornografia caiu para 12 anos, sendo 58% dos primeiros contatos acidentais.

O Wall Street Journal expôs como o Instagram conecta redes de pedofilia, e um estudo de 2024 mostrou que o algoritmo do TikTok exacerba transtornos alimentares ao favorecer conteúdos pró-anorexia. A internet moderna ataca a inocência das crianças.

No melhor cenário, crianças passam horas vendo vídeos sem sentido. No pior, são expostas a conteúdos e comunidades que corrompem a inocência e distorcem sua compreensão do amor, da confiança e do corpo. Pais fariam bem em adiar a entrega de smartphones aos filhos até que tenham maturidade e em usar controles parentais de forma rigorosa.

A internet moderna agrava a incerteza da minha geração ao desencorajar interações reais que levam a amizades significativas, relacionamentos saudáveis e respeito a figuras de autoridade.

Embora a Geração Z tenha sua parcela de responsabilidade, pais, professores, líderes religiosos e outros adultos precisam perceber como carecemos de uma comunidade real. Tenham paciência conosco e ofereçam oportunidades de socialização no mundo real. Alguns permanecerão online, mas muitos agradecerão pelas experiências.

A família em crise

Por fim, em relação ao declínio da religião e aos danos da vida online, a Geração Z enfrenta enormes dificuldades quanto a relacionamentos, casamento e família. A ausência de barreiras tradicionais e a degradação da internet moderna tornam a formação de uma família mais difícil do que nunca.

À medida que a religião e outras estruturas comunitárias se fragmentaram nos Estados Unidos, a família sofreu ainda mais — talvez até mais do que a crença metafísica. Em 2019, apenas 51% dos alunos do ensino médio viviam com pais casados, ante mais de 60% em 1996. Diversos estudos mostram que crianças criadas por dois pais casados têm melhores resultados. Menos famílias estáveis significam menos modelos de inspiração para os jovens.

Sem exemplos de casamentos saudáveis, corre-se o risco de nunca compreender o que é o amor verdadeiro. Além disso, a perda da comunidade religiosa, das amizades significativas e da interação social levou à queda no namoro entre adolescentes. O casamento está acontecendo mais tarde — quando acontece — e muitos adultos simplificam demais as causas.

A crença comum, inclusive em círculos conservadores, é que os homens jovens precisam apenas "se esforçar mais" para abordar mulheres. Embora haja alguma verdade em críticas aos homens, poucos se perguntam por que eles têm relutado em namorar.

Examinar as relações de gênero modernas foge ao escopo deste artigo, mas o declínio da moralidade tradicional e da comunidade real parece ser um bom ponto de partida — assim como sua substituição por aplicativos de namoro e interações digitais.

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Hoje, a maioria dos casais americanos se conhece online, mas esse sistema não tem funcionado bem. Além do declínio geral no casamento, relacionamentos iniciados online tendem a ser menos satisfatórios e estáveis. Aplicativos como o "Tea" — que ganhou popularidade ao permitir que mulheres compartilhem relatos detalhados (e muitas vezes fofoqueiros) de seus encontros — só aumentam a desconfiança.

Enquanto alguns homens se afastam dos relacionamentos por imaturidade ou amargura, muitos simplesmente se desgastam em um sistema que parece manipulado e inalcançável.

Sem as estruturas tradicionais (igrejas, família, grupos de amigos), conhecer alguém se tornou mais difícil, o que gera ainda mais dúvidas sobre o que é viver bem. A dinâmica digital dos encontros modernos foi projetada para o lucro e leva à mercantilização das pessoas, em vez de incentivar casamentos saudáveis.

Um número crescente de jovens americanos afirma não querer filhos, e a taxa de fertilidade está despencando. Se essas tendências continuarem, não teremos apenas uma geração que luta para formar famílias, mas uma cultura que rejeita a família como bem moral e social.

O roteiro para uma vida boa

Minha geração precisa de ajuda para discernir o que realmente é uma vida boa. Para muitos, a internet se tornou tão ou mais importante que o mundo real; ter uma família feliz parece impossível; e a alma, sedenta por Deus, vê a igreja como legalista ou passiva.

Muitos da Geração Z não sabem o que significa vencer na vida. Como consequência, muitos apenas desejam sobreviver ou escapar. Guias mais velhos precisam iluminar o caminho. Concentrem-se em cultivar comunidades reais, criem espaços de convivência, unam as pessoas e, acima de tudo, sejam ousados na fé, mostrando o quão maravilhoso é Deus — não só com palavras, mas com vidas que reflitam Sua glória.

O que quero que os mais velhos saibam é que a Geração Z não é má. A Geração Z clama por ajuda em um mundo onde estruturas tradicionais desmoronaram e nada ocupou o vazio. Estamos ansiosos, incertos e em busca de algo a que nos apegar.

Mostrem-nos casamentos felizes, amizades sólidas e o caminho, a verdade e a vida (João 14, 6). Fomos feitos para coisas mais elevadas. Mostrem-nos que ainda é possível alcançá-las.

Matthew Malec é doutorando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Chicago. Trabalhou no Becket Fund para a Liberdade Religiosa e no Centro de Ética e Políticas Públicas. 

©2025 The Public Discourse. Publicado com permissão. Original em inglês: The Aimless Generation

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