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Estamos preocupados com a Geração Y, e a Z está chegando ao mercado de trabalho neste ano! Só nos damos conta da mudança geracional quando a quantidade de indivíduos da nova geração no mercado de trabalho é notável. Hoje os Y são a maioria da População Economicamente Ativa e estão sob os holofotes.

Só para definir quem é quem: os nascidos entre 1980 e 2000 são normalmente tratados como “Geração Y”, ou Millennials. De 2000 para cá são os Z, que completam 16 anos e estariam legalmente aptos a trabalhar. Mais velhos que essa turminha são os X (1960 a 1980) e os baby boomers (da Segunda Guerra Mundial a 1960). Antes deles, nossos queridos vovôs, chamados Veteranos ou Geração Silenciosa. As datas podem variar um pouco. Vamos tentar entender cada grupo.

Os mais velhos primeiro: quem tem mais de 70 anos viveu num mundo em guerra, sem tevê nos seus primeiros anos, viveu na época das grandes corporações, quando um bom emprego era o objeto do desejo e a fidelidade à empresa era um valor absoluto. Informação era difícil de se obter, jornais e rádio eram as melhores fontes, estudo era pouco e caro. A expectativa de vida dos homens era de 50, 60 anos. Moças casavam virgens, suas mães tinham sido as primeiras a votar, a maioria obedecia aos maridos e não trabalhava.

Tolo pensar que domaremos os jovens, enquadrando-os no nosso modelo mental e de atitude

Eu sou de 1958 – baby boomer, portanto. Minha geração foi a da revolução sexual, da liberação dos costumes, a primeira a realmente enfrentar os pais e discutir com eles. Mas pesquisávamos em bibliotecas. Aprendizado vinha de livros e professores, que líamos e ouvíamos por inteiro, tentando não perder nada. Os bons velhinhos da geração anterior ficavam chocados com as nossas liberdades, rock, roupas e palavreado. Vivemos a ditadura militar com suas restrições e controle de informações; procurávamos bons empregos e as meninas tralhavam também. Entre boomers e X se diferenciam roupas e música: nós fumávamos mais e eles faziam mais ginástica; nós éramos mais politizados.

Hoje, nós e os mais jovens da Geração X dirigimos as empresas onde trabalham os Y. Não entendo bem por que, tendo lutado tanto por liberdade de todo tipo, queremos que esses meninos se comportem como nós. É o tal abismo entre gerações, que pede a construção de pontes.

Tolo pensar que domaremos os jovens, enquadrando-os no nosso modelo mental e de atitude. Toda geração “alivia” as características da anterior e acrescenta as suas próprias. Isso é evolução e, portanto, deve ser bom. Nós continuávamos fiéis às empresas, embora menos que os nossos pais. Eles começavam e terminavam a carreira no mesmo emprego. Nós já mudávamos. Os Y têm rodinhas nos pés, são mais fiéis a si mesmos, têm menos compromisso com os outros. De onde vem isso? Da facilidade de acesso, de informação. É muito mais fácil mudar, procurar e achar emprego, mesmo nas crises. Está tudo disponível na internet, dá para escolher as empresas nos sites, analisando missão, valores e visão que os agradem mais. Quando a realidade é muito diferente do site, é só mudar de novo... eles conseguem, em quaisquer condições de mercado, ser mais seletivos.

Vão viver mais. A expectativa de vida segue aumentando. De 47 anos no início do século passado, já estamos em quase 80 anos. É provável que os Y vivam em média 100 anos, talvez mais. Portanto, para que pressa? Podem e devem casar mais tarde; a responsabilidade de manter uma família fica para depois. Vão trabalhar mais que todos nós. Os que reclamam, indignados, da falta de compromisso, da facilidade em trocar de empresa e dos smartphones no horário de trabalho deveriam considerar que os Y vão trabalhar no mínimo até os 80 anos, pois é inviável uma geração inteira se aposentar aos 60 e ficar 40 anos sem trabalhar. Não dá para trabalhar estressado por tanto tempo.

As vantagens que virão com a adaptação da sociedade e da economia às novas condições tecnológicas vão demorar ainda. A maioria das empresas não está preparada para aproveitar plenamente as vantagens do trabalho descentralizado e da gestão realmente colaborativa. Elas deveriam pensar mais nisso – e os sindicatos também. A manutenção das leis trabalhistas no formato atual mais atrapalha o novo emprego que ajuda.

Seguimos como a disputa entre taxistas e Uber. Em alguns anos os táxis serão autônomos, sem motoristas. Ou seja, nem um, nem outro. E os donos das frotas talvez sejam as fabricantes de automóveis.

O resto é só a briga da transição. A Geração Z vai aproveitar muito as novas condições, se nós, mais velhos, deixarmos.

Ricardo Cipullo, engenheiro pós-graduado em Marketing e Finanças, é membro da Renaissance Executive Forums.
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