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Em partida realizada no estádio Mané Garrincha, em Brasília, válida pelo Campeonato Brasileiro, torcedores do Corinthians e do Vasco da Gama se engalfinharam em mais um espetáculo explícito de violência. Dentre os alvinegros envolvidos no confronto, a polícia militar identificou um dos que estiveram presos recentemente na Bolívia, pela morte de um adolescente em jogo pela Libertadores da América.

A dificuldade encontrada pela PM para conter a pancadaria deu-se pelo fato de os vândalos estarem sentados próximos uns dos outros, sem uma grade de separação dos grupos. O estádio Mané Garrincha, recém-construído, segue os padrões de exigência da Fifa para a Copa do Mundo de 2014. Nele, assim como será na Arena da Baixada, os espectadores não serão divididos por torcidas. Não será diferente de qualquer pessoa que for ao teatro assistir uma peça e escolher a poltrona de acordo com o preço que deseja pagar.

No Brasil, o histórico da violência em estádios de futebol é farto. Nos clássicos regionais, onde a rivalidade é maior, o saldo ao fim de cada partida é de prisões, quebra-quebra, atentados, agressões físicas e, não raramente, mortes. Em 2009, em Curitiba, após o fim da partida em que o Coritiba foi rebaixado para a Série B do Brasileirão, o que se viu no estádio e fora dele foi uma verdadeira praça de guerra.

Apesar das penalidades previstas em lei, como a ausência de torcedores ou perda do mando de jogos e multas aos clubes; da presença cada vez mais ostensiva da polícia para tentar conter e reprimir as torcidas organizadas; da instalação de câmeras de monitoramento; e do esforço do Ministério Público para apurar os fatos, o saldo ainda é deficitário para a paz nos estádios.

Mesmo diante de toda a gravidade, os cartolas do futebol, dirigentes de clubes e o próprio governo não tomam nenhuma medida socioeducativa para tentar minimizar tais mazelas. A questão é de educação. Ações corretivas devem ser intensificadas, mas por si só não resolvem. Basta observar o exemplo do reincidente torcedor corintiano envolvido na briga em Brasília.

O simples detalhe de que a partir de agora os torcedores adversários poderão estar sentados lado a lado nos estádios é um fato de suma importância. Finda a Copa, quando os turistas estrangeiros retornarem a seus países, o Brasil voltara à rotina dos campeonatos com estádios lotados. Como conter, por exemplo, a rivalidade entre a facção corintiana Gaviões da Fiel e a Mancha Verde palmeirense em dia de clássico Corinthians e Palmeiras no Itaquerão? Que segurança terão as pessoas ao redor, principalmente mulheres e crianças, que frequentam os estádios? Absolutamente nenhuma.

No milionário orçamento previsto pelo Ministério dos Esportes para a construção de estádios e obras de infraestrutura, não deve estar contemplado nenhum centavo para promover e divulgar uma campanha de educação e conscientização a ser levada aos estádios, escolas e praças; às comunidades carentes e bairros de elite; aos campinhos de futebol das esquinas e periferias. Uma campanha que envolva atletas e ídolos de todas as gerações, torcedores e até personagens envolvidos em conflitos.

O meia surinamês Seedorf, do Botafogo, não é um craque apenas dentro de campo. Após a vitória contra o Fluminense, que deu ao clube o título de campeão carioca de 2013, Seedorf cantou para os torcedores a canção One Love, do jamaicano Bob Marley. Depois, explicou que "cantei porque temos de procurar amor à vida. Entre os torcedores, é importante acabar com o ódio e limitar a rivalidade. O futebol é uma grande festa. Mas quando o jogo acaba a vida recomeça".

Não é uma grande lição?

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