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No mês passado, o Centro de Estudos da Consultoria do Senado Federal liberou o estudo: "Transformações Recentes da Matriz Brasileira de Geração de Energia Elétrica – Causas e Impactos Principais".

O trabalho evidencia, de forma corajosa, as dificuldades para a expansão do parque gerador nacional, concluindo que, se nada for feito, teremos tarifas de energia elétrica mais elevadas, maiores riscos de desabastecimento e mais emissão de gases de efeito estufa.

Esse quadro tenebroso deve-se à enorme dificuldade para utilizar a imensa reserva hidrelétrica do país, com o abastecimento passando a depender cada vez mais de fontes térmicas, caras e poluentes.

O trabalho destaca que "as estratégias dos variados setores contrários à solução hidrelétrica conseguiram, na prática, estabelecer um ‘veto branco’, se não às usinas, ao menos à construção (formação) de reservatórios, aos quais foram impostas severas restrições".

E como ocorre esse "veto branco"? O trabalho do Senado corretamente afirma: "Esse clima (anti-hidrelétricas) é mantido por meio de um eficiente trabalho de comunicação realizado por ONGs ambientalistas, indígenas, celebridades internacionais, e por determinados movimentos sociais, tais como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Eles têm sido extremamente eficientes para mobilizar a imprensa e a opinião pública contra a construção de usinas hidrelétricas, em geral, e, em especial, contra aquelas dotadas de reservatórios d’água".

Num passado não tão distante, o sistema elétrico brasileiro tinha regularização plurianual. Com isso, mesmo que ocorresse um ano de poucas chuvas, nossos reservatórios garantiriam o abastecimento até, pelo menos, o ano seguinte.

Pouco a pouco estamos abrindo mão desses "cofres de energia". Bastam alguns meses de menor pluviosidade ou de atraso no perío­­do úmido, para termos que colocar térmicas em operação, com a consequente elevação de custos para o consumidor, maiores emissões de gases estufa e poluição ambiental. Se a seca for significativa, até mesmo o racionamento de energia pode se fazer necessário.

Ao desistirmos de formar reservatórios, deixamos de usufruir outros de seus benefícios como o controle de cheias, a viabilização da captação de água ou uso do lago para o lazer. Dificultamos também a instalação de fontes renováveis intermitentes, como instalações eólicas ou solares, que carecem de condições para armazenar energia.

Com a licitação de Belo Monte, vemos o diretor James Cameron e a atriz Sigourney Weaver defendendo que o Brasil desista dessa obra. Suas manifestações evidenciam completo desconhecimento do tema energia e meio ambiente. Exemplos disso são as afirmações de que as energias alternativas, eólica e solares, seriam mais baratas e que as hidrelétricas são uma alternativa energética ultrapassada. Vejamos algumas informações importantes que os artistas desconhecem.

Os países desenvolvidos interromperam a construção de hidrelétricas somente por terem exaurido praticamente todo o seu potencial disponível. Mesmo assim, os EUA estão com um programa para aproveitar a "raspa do tacho", com seu Departamento de Energia tendo recém-concluído um levantamento detalhado dos potenciais hidrelétricos que ainda podem ser aproveitados. Além disso, apesar de seu enorme programa de instalação de fazendas eólicas, tem também previsto, para os próximos 10 anos, uma significativa expansão de usinas térmicas (140 mil MW).

O Brasil sabe muito bem como construir hidrelétricas ambientalmente adequadas. A Copel, que ganhou o prêmio internacional IHA Blue Planet Prize, com a construção de Salto Caxias, é um exemplo.

A usina de Itaipu é outro excelente exemplo. Reconhecida internacionalmente como exemplo ambiental, sua construção foi extremamente criticada no passado. Se essas críticas infundadas tivessem prevalecido, teríamos privado brasileiros e paraguaios de uma fonte de energia confiável, barata e ambientalmente adequada.

Certamente tudo isso o diretor de Avatar desconhece.

Concluindo, é interessante lembrar que o famoso ambientalista James Lovelock, criador do conceito Gaia, no qual Avatar se baseia, ao ser recentemente perguntado se defendia para o Brasil a expansão da geração através de nucleares, respondeu "eu creio que esta não seja a melhor opção para o Brasil. Vocês têm feito um bom trabalho com a geração de energia hidrelétrica".

Marcos Lefevre, engenheiro, é ex-superintendente de operação da Itaipu Binacional.

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